terça-feira, 23 de setembro de 2008

Manoela foi pro mar:


Há algum tempo atrás eu fui pro mar para me encontrar, ou para fugir não sei, hoje eu volto lá, hoje eu vou pro mar para me perder, cansei, a dor virou estado de graça, meu dono se chama ignorância, hoje sou ignorante, não sei de nada, aqui não há futuro, não se faz planos, mal se sonha, o presente é turvo, encoberto por uma névoa mostra que estes dias são escuros e invisíveis, não sei quando foi que comecei a falar a língua dos anjos, mas ninguém me entende, (ladainha de criança mimada) é pode ser que seja, mas quero ir embora, com a maré, e nunca mais voltar, não é sair temporariamente e depois reaparecer como se nada tivesse acontecido, quero ir mesmo dessa vez, recomeçar tudo, até que em um novo lugar chegue aonde estou hoje, e fuja novamente, talvez essa seja a minha sina, meu destino, não cabe Manoela mais aqui, compreensão não me sacia mais, e ela vem por todos os lados, meu teatro diário perdeu a plateia, quero silêncio, no mar agora me perco, vou pra onde ele me levar mesmo que isso seja para o fundo, mas um amigo já dizia que nesse fundo nunca se chega, (então esse medo eu não tenho), que a maré guie meus dias, até perder a conta do calendário e tudo parecer paraíso, não é fuga, é uma despedida, mesmo que seja mental, aqui eu desisto, parei, não posso mais, abdico da minha realidade tragicomica, quero céu de brigadeiro, sol, vou pro mar da minha mente onde dias claros darão sentido ao meu cotidiano, e minha vida será doce, e breve,e (...) não, na verdade, eu não tenho a mínima idéia do que fazer, pra onde ir, ou porque.


(e ela pensou por muitas vezes, se usava a sua Mauser ou o gás do seu fogão, mas seu último direito, ela viu que era um erro, Manoela foi pro mar.)

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