sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pare;


Parei, tô bem, parada, os dias pesam, as pessoas pesam, e o peso é demais, me joga no chão, mas não não foi no chão que parei, estou de pé, andando por um caminho claro, uma trilha, que me leva a felicidade que é sonhada por mim, é o meu caminho, entende?, as vezes eu divido ele com os outros, as vezes passo por outros caminhos, atalhos, prolongamentos, eu tento, caminho solitário é triste, mas ninguém divide o mesmo caminho pra sempre, ninguém quer chegar no mesmo lugar, respeito isso, respeito os seres viventes e suas diferenças, só peço que parem de arrastar correntes ao meu lado, pois hoje, eu ando com asas nos pés, vê-los presos fere a minha liberdade, não tentem cortar minhas asas, eu lutei por elas, são a minha escolha, a minha verdade, meu caminho é leve, livre, as correntes só destroem a beleza da vida, elas prendem, livre-se delas, e sinta o vento no rosto, nos cabelos, o sangue a correr nas veias, liberdade, ainda que tardia.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Querida amiga:

As vezes é preciso desistir, especialmente quando se quer demais, querer demais pode ser perigoso, a vontade em excesso leva quase tudo a ruína, como nasci sem a-medida-certa-das-coisas não sei quando é hora de desistir, insisto sempre, por pura fé no outro, e quase sempre me magoo, mas insisto em repetir que essa é uma escolha minha, neste tempo de computadores, vidas desperdiçadas por essa virtualidade inútil, a tecnologia nos tornou muito mais individualistas, canalhas, preguiçosos, e até mais infelizes, nos tornamos reféns de algo que não precisamos, quer dizer não precisávamos, porque agora é quase impossível passar um dia sem entrar num mundo que na verdade nem existe, as pessoas não querem aproximação com as outras, porque o medo é tanto, a dor já é tanta, insuportável mesmo tem sido viver ao lado de tanta gente amarga, marcada pela própria história, todas cheias de esqueletos no armário, faltam sorrisos, a vontade, o ar puro, falta fazer valer a pena, já que apesar do lugar comum: uma andorinha só não faz verão, pense bem antes de fechar o seu mundo pra visitas, antes de se trancar no inferno de si mesmo, eu sempre insistirei em bater nas portas; entrar, ver o que há lá dentro, eu preciso do outro, preciso de você, e não tenho medo disso, por mais que insista, por mais que tente, por mais que faça por onde e mesmo que doa, entenda; eu jamais vou desistir.

sábado, 22 de novembro de 2008

Lispector:

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar
Faça com que eu saiba ficar com o nada,
e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços o meu pecado de pensar

domingo, 16 de novembro de 2008

Sobre dar a cara a tapa:

É aquela velha história "você passa uma vida se preparando na escola, estudando coisas inúteis,e tudo esse conhecimento vai se resumir em algumas horas e alguns dias, em uma duas, ou quem sabe 3 provas..." sistema imundo, injusto, falido, eu podia dizer aqui mil vezes "é por isso que o país não vai pra frente", mas não digo, eu sou vítima deste sistema, estou no bolo, faço parte dele, sou óleo que faz a máquina girar, porque difícil mesmo é ver gente de verdade por trás de tanta prova, papel, documento, número de inscrição, a partir de hoje foi isso que percebi, somos todos um número, horas no sol, pra chegar a uma sala numerada e ter teu número numa cadeira, sentar nela e esperar mais alguns numerosos minutos, fazer uma prova com 60 e poucas questões, marcar o cartão, ir pra casa, ter esperança que tudo tenha dado certo, porque entenda; pra eles simplesmente não importa, e daí se você vai se matar se não for aprovado? você será só mais um que não aguentou, que não foi capaz, porque não há vagas pra todos, é seleção natural, Darwin explica, está no programa da prova, só os mais fortes e adaptados sobrevivem, você devia saber.

(é meio humilhante, mas, hoje, eu dei a minha, duas vezes.)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cold turkey endorphins; Waterworks, Inc.

Quase todos os dias eu consigo manter a cabeça acima d’água. a grande dierença é quando entre um gole no refrigerante (light, sou gorda) e um “acho que quero mais batatas”, inundando vêm e derrubam todos os castelinhos de areia que você tinha construído, a começar pelos calabouços, repletos de pesadelos que serviam de uma base pro castelo. irônico, um tanto, mas nada mais forte que medos para sustentar o peso do castelinho em suas rotinas. dentro das rotinas começam a surgir as torres. sonhos que parecem não estar presos à constituição térrea do castelo e querem chegar no céu. claro que toda torre tem sua princesa solitária, guardando um armário cheio de vestidos empoeirados. antes do dilúvio, a princesa tinha aberto o armário, lavado os vestidos, jogado fora aqueles que estavam cheios de traças.

ela estava quase disposta a usar um deles de novo. um daqueles vestidos tão cheios de uma essência que lhes transfere vida própria. um daqueles vestidos que você só pode usar sabendo que pessoas vão te comprimentar e querer saber da sua família. mas aí tudo veio por agua abaixo, né?

e tem sido assim desde que a gente lembra. vez ou outra aparece algum espertalhão perguntando porquê não constroem os castelos longe da água, ou até porque não seguram os portões da represa.

é que aqui em casa a gente gosta de ter o copo sempre cheio. não tem muito sentido em perpetuar essa metáfora muito mais, porque chover no molhado é apelido à essa altura do campeonato (ha.) mas sabe, não aguento ter que fingir sorrisos, rir de piadas sem graça e dar voltas bêbadas e sem muita coordenação às 4 da manhã.

eu preciso rir até meu estômago doer, sorrir até com os cabelos, porque a alegria é demais pra ser contida, gargalhar gritando a tarde inteira, porque todo o resto do mundo está trabalhando. mas aí tem horas que tudo isso é demais, e desaba. e só isso eu quis dizer. que estou ciente do que faço, e faço por escolha. eu podia me ‘curar’ e ser uma pessoa morna e seca. só não quero. obrigada.

Adaptando:

Vejo-me aqui agora, só aqui, parada e sem palavras, que o passado é o passado, o presente uma abstração, e o futuro se encurta, que pouco para mim será, contrita chego ao presente, tridimensionada e não dividida, fazendo o que penso que que sei ou que nunca saberei, que as palavras me atropelam e as idéias não me acodem, e quem sabe nunca me acudiram, na fragilidade dos rabiscos. Apesar e apesar em pertinância doída, vou rezando tempo em fora (...) Não espero o fim da caminhada, que meu tripé se plantou fundo â espera de outras dádivas que você há de me dar. O tempo já passou muito ao longo de minha vida, mas sempre há uma luz no túnel para o tempo â minha frente. (...) Poderá ser que sim, poderá ser que não. O futuro tão encurtado terá o que dizer ou não dirá mais nada.

(Caio Porfírio Carneiro; adaptado)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

The little things.- as únicas que valem a pena;

porque pessoas vão embora. porque lugares são todos iguais. porque ambições mudam e sonhos são esquecidos na hora de alimentar as crianças. porque duas horas no trânsito matam toda e qualquer vontade de correr descalço na chuva. filas no banco na hora do almoço só realçam a falta de sabor da comida do restaurante por quilo que tem na esquina de baixo. lembra daquela menina dos olhos brilhantes, a do vestido azul que você era apaixonado quando era criança? então, casou porque engravidou, e os olhos dela só brilham quando estão cheios de lágrimas refletindo a novela que ela assiste na tv 14” da cozinha enquanto lava a louça. lembra de todos os bichos de estimação que você já teve? morreram. e os que você tem agora vão morrer também. lembra do nome de todas as pessoas que você já beijou? lembra de quando você não tinha prestações pra pagar? lembra de aulas de ciências?

o que houve ali?

onde a gente se perdeu?

crescer não precisava ser tão ruim assim. podia ser só aqueles momentos de acordar no meio da noite e ter alguém segurando a tua mão. podia ser sair às terças-feiras sabendo que tem que acordar cedo na quarta pra trabalhar, e nem ligar. podia ser ter grupos de amigos que não se afastassem por causa de novas prioridades. e porque eu terminaria esse texto, mas ao invés de falar, resolvi agir e vou ali dar um abraço na minha amiga e dar risadas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Devolve, moço;

Devolve moço
Meu coração
Meus pensamentos
Devolve moço a minha fé
Devolve meus sentimentos

Devolve moço o tempo
Em que se ria desmedido
Em que amores não eram como o vidro

Torna, moço, cada momento inesquecível
Pouco importa se passe
O importante é que se guarde
Tudo que foi vivido

O que a gente é moço
É o que a gente sente
Por isso moço, me devolde
Eu quero ser pra sempre.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A verdade:

Manoela anda sem palavras.

sábado, 1 de novembro de 2008

Sobre a efemeridade das coisas:

Tudo parece acabar, escapar pelas mãos, sumir, quando mais precisamos, desaparecer, evaporar, terminar, tenho uma vida de intermináveis histórias mal-acabadas: amores, amizades, todos destruídos por nanição, pelo tempo, pela falta de tempo, pela distância, pela proximidade, "tudo demais é veneno", nós, reles mortais, tendemos a negar as raízes, quando vóvó diz: "tudo demais é veneno" a gente não acredita, sempre há o momento, aquele breve momento em que você tem certeza: "dessa vez vai ser pra sempre, dessa vez vai dar tudo certo, fomos feitos um pro outro, nada vai mudar isso", ledo engano: nada nunca vai dar certo, nem nessa, nem nas próximas mil vezes, as pessoas não são feitas umas pras outras, raramente conseguem transgredir o seu mundinho miseravelmente mesquinho olhar pro outro e enxergar nele um par, um igual, alguém que mereça seu afeto, sua sincera atenção, é preciso desprendimento, força de vontade pra fazer as coisas darem certo de fato, quase ninguém tem, quase ninguém quer, na maioria das vezes como narcisos desesperados por espelhos mergulhamos em novas relações com medo da solidão e do abandono, logo nos encontramos perdidamente apaixonados pelo nosso reflexo nos olhos dos que amamos, é bem simples: projeção, inconscientemente esquecemos que há alguém por traz daqueles olhos-espelhos, onde nos vemos tão belos, irresistivelmente belos, fazemos daquele ser o que nossa mente manda, esperamos dele o que desejamos, uma vez quebradas as expectativas, tudo parece um erro, um engano, nos sentimos traídos, fadados a desgraça, porque ninguém presta não é?, só você, bonzinho mesmo é você, o injustiçado, o coitado, o único que sofre... Veja bem caro leitor: não existe vítima neste mundo, não há uma só alma que seja inocente, a razão da efemeridade das coisas reside na natureza humana, transgredir isso tudo: a ordem natural das coisas (-nasce cresce morre, -inicio meio fim) tem se tornado cada vez mais impossível, porém, enquanto o coração bater forte na caixa do peito, da luta não me retiro.

(e este ano infernal que nunca termina?)