terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Diálogo do ano que termina:


Aquela história de 'eu e eu mesma', debatendo o bom e velho clima de fim de ano

- Tá ouvindo?
- O quê?
- A música que vem lá de baixo, da loja de brinquedos.
- E precisa?
- Falei pra incomodar, sei que não te agrada essa história de jingle bell.
- Não é bem isso.
- É o que então?
- ...
- Fala!
- Só acho final de ano uma coisa muito hipócrita, falsa mesmo.
- Mas adora comer as bolachinhas de melado!
- Só se forem cobertas com glacê!
- E no mais?
- No mais todo mundo vive de um jeito que não existe. Com aquelas mensagens de amor e paz e blá blá blá na tevê. Ou tu acha mesmo que “hoje é um novo dia de um novo tempo que começou”?
- Ah! Mas a campanha desse ano tá bem bonita!
- É mesmo, também gostei. Só que se a gente pensar bem, é tudo utopia. A única grande mudança do ano novo é o último dígito que a gente escreve no cheque e normalmente se confunde nos primeiros dias, põe o do ano anterior, perde a folha, começa tudo de novo…
- Quase nem se preenche mais cheque hoje em dia!
- meio velha.
- E tu nem deveria ligar pra isso, eu sei que tu usa cartão.
- Mas claro que não é só o cheque! Não sei bem explicar, mas não gosto dessa coisa de que, porque é dezembro, tudo vira retrospectiva, balanço, reflexão, nem da falsa esperança de que só porque volta a aparecer janeiro na folhinha tudo vai ser diferente. Todos os sonhos, os desejos, os propósitos…
- Qual o problema em sonhar?
- O problema não é ter sonhos e planos, o problema é de uma maneira ou outra depositar isso tudo no próximo calendário. Não entendo por que não se pode desejar coisas boas assim, de hoje pra amanhã, ainda que seja junho, ainda que seja dia 27, ainda que não tenha feriado, ou ceia, ou fogos, ou mandingas
- Talvez a graça seja essa mesmo. É uma hora em que todo mundo pára e se concentra em boas coisas.
- Mesmo assim eu acho errado. Não gosto porque é fingido.
- Por quê?
- Olha isso que eu acabei de receber “amigo, agora é preciso viver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar…” assinado, fulana de tal. Primeiro, fulana nem me conhece.
- É, formalidades de trabalho. Tu sabe como é...
- Segundo, desejar coisas boas por formalidade é patético. E depois, por que raios agora tudo vai mudar? Não vai só porque é um dia depois do outro. Não vai só porque alguém pula tantas ondas ou veste uma calcinha vermelha. Não vai!
- Acho que tu tá muito amarga e desacreditada.
- Só porque eu acho bobagem essa coisa de “ano que vem eu vou isso ou aquilo”?
- É bom ter esperanças!
- Sejamos honestas! Em seis de janeiro do ano que vem, no máximo, eu não vou nem lembrar mais de isso ou aquilo! Vou estar me lixando se teu ano vai ser próspero ou se tua noite do último vinte e quatro foi mesmo feliz.
- Amarga e descreditada.
- Eu só não sou boba.
- ...
- ...
- Tudo bem, mudemos de assunto.
- ...
- Não era esse o texto, ?
- Não, era outro.
- E tu mudou por quê? Só pra poder falar de ano novo! Tá vendo como tu dá importância pra isso?
- Isso é pra irritar, não é?
- Desculpa.
- ..
- Não falo mais em festas de fim de ano, prometo.
- Tá.
- ...
- ..
- ...
- ...
- ...
- Ei, tem papel e caneta aí?
- Tem. Por quê?
- Escreve uma coisa então! Vou ditar.
- Fala!
- Propósitos para dois mil e seis, dois pontos… tentar ser menos amarga. Pula uma linha. Acreditar mais nas coisas e nas pessoas.
- Posso pular outra linha e escrever “ser mais tolerante”?
- Bem… acho que pode. Se parece bom, sempre dá pra tentar.
**
Não liguem para como eu uso o pronome na segunda pessoa e o verbo na terceira, não é erro, é vício de linguagem. Cá entre nós, vocês têm mais o que fazer além de ficar reparando nos meus verbos e pronomes, eu sei. Como suas listas de sonhos e desejos e planos pro ano que já vem.
E sejamos felizes. Não porque eu estou desejando ou porque cantam nos jingles da televisão. Mas porque é a melhor maneira de fazer as coisas. E ponto.

(um feliz 2009 pra ocês. :D)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Era tudo que eu queria;

Eu queria passar o resto da vida pensando, falando, escrevendo você e eu, queria respirar pra sempre o mesmo ar, juntos, fazer valer a pena, cada fio de cabelo, cada célula do meu corpo, tudo teu, tudo, todo o sentimento que já pude sentir, queria passar o resto da vida te olhando dar sentido as coisas, e levando o sentido de todas as coisas na hora de ir embora, eterno paradoxo, você é infinito, "escravos cardíacos das estrelas" nós somos tão bons quanto nossos sonhos, tão grandes quanto nossas verdades, nós somos um, sabe; eu demorei uma vida pra te encontrar, não vou te perder pra fantasmas, nem pro tempo, nem pros vícios, nem pro medo, não vou te perder, porque não é simplesmente amor, é muito mais que isso, amor é pouco, muito pouco, me leva pra longe daqui, pra perto de você, que é o meu lugar.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Porque amor de verdade deve ser isso; no começo você me tirava a fome, o sono, agora eu quero dormir e comer ao seu lado todos os dias, no começo você me dava medo, agora você me tira todos eles, e não, eu não tenho mais vergonha, nunca me senti tão livre, leve, nunca estive tão feliz, é, você me faz feliz, mas do que eu pensei que fosse possivel alguém fazer outro alguém, é uma carga de bons sentimentos tamanha que já não sei o que fazer com tanto amor, só sei que sinto, só sei que agradeço; obrigada pela nossa história, pela vida que estamos construindo juntos, e é linda, obrigada pela paz, pelos planos, por cada minuto do teu tempo, por ser assim, tão parte de mim como és, por estender a tua mente a minha, as tuas mãos as minhas, obrigada, é o maior amor do mundo, eu sei, é único, e eu estou disposta a me apaixonar por você completamente, todos os dias, para o resto da minha vida, como tem sido desdo o começo, e como deve ser, até o fim, (que no nosso caso não existe), meu amor.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Nós vamos falar sobre o que?


Sobre todos os dias inquietos, dias de calor infernal e de batucar em mesas e estantes.

Dias iguais, diferentes, dias de céu azul, dias que só acontecem aqui no sul, dias de quem não tem tempo pra pensar, dias pra achar desculpas, pra fazer pratos gelados de doce para após o jantar.

Sobre todos os dias que encontramos as desculpas mais absurdas apenas pra justificar nossa falta de vontade, nosso fraquejar. Sobre as músicas que ouvíamos e deixamos de ouvir, sobre a rádio que cansamos de sintonizar, sobre as pessoas que deixamos de amar, sobre os passos que poderíamos ter dado e não demos. Sobre o fim de tudo, os princípios que existem desde que o mundo é mundo, sobre a camisa mal passada, sobre contar o que sonhamos á noite pra alguém que sempre estará ali pra escutar.

Sobre banho de mar.

E também sobre os domingos de sol, comer fruta embaixo de árvore e sentir formiga beliscando a bunda, sobre feridas que cicatrizam, pois elas sempre cicatrizam. Sobre provas que tinham semblante de piores do mundo, sobre deitar no chão do quarto com a luz desligada e esperar o tempo passar. Sobre os perfumes característicos das épocas, sobre presentes que comprávamos quando o dinheiro era fácil, sobre beijos escondidos e amores platônicos que seriam pra vida toda até o próximo amor.

Sobre velhos amigos, sobre filmes que todos viram – menos você, sobre como pessoas significam mesmo através dos anos, sobre o primeiro fio de cabelo branco, sobre credibilidade e a possibilidade de esgotamento desta, sobre listas de supermercado, festas de fim de ano, futebol.

Sobre Brasil, London, Amsterdam, NY. Sobre o que está longe, o que está perto, o que desejamos, o que perdemos, o que nunca ganharemos, o que sonhamos, o que comemos, o que sangramos, o que acreditamos.

Sobre nós.

O futuro, o ontem. O que se passa e o que jamais irá acontecer. O que planejamos.

Sobre o que lembramos, sobre a vida.


(é eu te amo)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sobre a autora:


Analisando a minha breve porém consistente existência, eu digo que sou clichê, e subproduto, sou mero resultado da soma de várias influências, e que também influencio, sou viciada e viciante, constante inconstancia, e a mais independente das dependências, menina-mulher, apaixonante e apaixonada, não quero viver de ódio nem morrer de amor, sou sincera, e pura, quando me convêm, amo minha família na qual incluo meus amigos, os de verdade aquela família que me permiti escolher, faço a minha arte nela morro e renasço ao mesmo tempo todos os dias, e sobre todas as coisas eu amo, amor incondicional daqueles que falam os poetas e gritam os apaixonados, que hipnotizam os adolescentes e que fazem sorrir os velhinhos, amor a vida, e a tudo que veio com ela alêm disso não me preocupo muito com o futuro, sei que um dia ele chega, e junto com ele todas as outras coisas, não reclamo demais, isso só envelhece, dou pelo menos um sorriso sincero por dia, pra esquecer as maldades do mundo e lavar minha alma, gosto de conversas longas, e interessantes, de filmes e de histórias fortes, de musicas que falam de realidade, eu sou chocolatra e amo tudo que vem da Itália, eu espero demais das pessoas e vivo me ferrando por isso, mas prefiro assim, do que ficar indiferente e não sentir, sou de carne e osso, pelo, pele e nervos, sou animal, e sigo meus instintos, até demais as vezes, odeio comida muito quente e gente muito fria, amo viajar mais o melhor mesmo é voltar pra casa, pro colo da minha mãe, e pro café da minha avó, o tempo me convenceu de que as pequenas coisas fazem a diferença e eu guardo tudo que posso na memória só pra poder rir sozinha antes de dormir, existem pessoas inesquecíveis, e gente que merece ser esquecida, cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é, algumas pessoas não gostam de mim, eu não me incomodo com isso, não é possível agradar a todos, alguns são para poucos e bons. Por fim esta aí um pouquinho de mim, essa doce burguesinha da zona sul, que pode não saber o que quer mas sabe muito bem o que não quer, (e portanto não perde tempo).


eu sou da geração do disbunde,e da tribo do abraço. ;)

(Texto de 2006, válido até hoje)

Dezembro;

Estamos aqui no magnifico último mês do ano, garanto que uma das melhores histórias do mês envolve o primeiro dia dele, eu não estava em casa quando amanheceu, hoje eu fui dormir depois do nascer do sol, e tive uma noite daquelas, com gosto, cheiro, uma noite que ficou eternizada na mente, eu poderia tocar cada momento, as palavras jamais relatariam os fatos, devida complexidade, beleza, e raridade como foram ocorridos, fato é que a vida é muito mais que nós, reles seres humanos que respiram e existem, o acaso está aí para provar que nada é por acaso, e eu estou aqui, para provar que a felicidade existe, agora ele está junto a mim e eu vou guia-lo pelos meus caminhos ,seguiremos juntos, dois em um, respirando, pois respirar é muito importante.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pare;


Parei, tô bem, parada, os dias pesam, as pessoas pesam, e o peso é demais, me joga no chão, mas não não foi no chão que parei, estou de pé, andando por um caminho claro, uma trilha, que me leva a felicidade que é sonhada por mim, é o meu caminho, entende?, as vezes eu divido ele com os outros, as vezes passo por outros caminhos, atalhos, prolongamentos, eu tento, caminho solitário é triste, mas ninguém divide o mesmo caminho pra sempre, ninguém quer chegar no mesmo lugar, respeito isso, respeito os seres viventes e suas diferenças, só peço que parem de arrastar correntes ao meu lado, pois hoje, eu ando com asas nos pés, vê-los presos fere a minha liberdade, não tentem cortar minhas asas, eu lutei por elas, são a minha escolha, a minha verdade, meu caminho é leve, livre, as correntes só destroem a beleza da vida, elas prendem, livre-se delas, e sinta o vento no rosto, nos cabelos, o sangue a correr nas veias, liberdade, ainda que tardia.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Querida amiga:

As vezes é preciso desistir, especialmente quando se quer demais, querer demais pode ser perigoso, a vontade em excesso leva quase tudo a ruína, como nasci sem a-medida-certa-das-coisas não sei quando é hora de desistir, insisto sempre, por pura fé no outro, e quase sempre me magoo, mas insisto em repetir que essa é uma escolha minha, neste tempo de computadores, vidas desperdiçadas por essa virtualidade inútil, a tecnologia nos tornou muito mais individualistas, canalhas, preguiçosos, e até mais infelizes, nos tornamos reféns de algo que não precisamos, quer dizer não precisávamos, porque agora é quase impossível passar um dia sem entrar num mundo que na verdade nem existe, as pessoas não querem aproximação com as outras, porque o medo é tanto, a dor já é tanta, insuportável mesmo tem sido viver ao lado de tanta gente amarga, marcada pela própria história, todas cheias de esqueletos no armário, faltam sorrisos, a vontade, o ar puro, falta fazer valer a pena, já que apesar do lugar comum: uma andorinha só não faz verão, pense bem antes de fechar o seu mundo pra visitas, antes de se trancar no inferno de si mesmo, eu sempre insistirei em bater nas portas; entrar, ver o que há lá dentro, eu preciso do outro, preciso de você, e não tenho medo disso, por mais que insista, por mais que tente, por mais que faça por onde e mesmo que doa, entenda; eu jamais vou desistir.

sábado, 22 de novembro de 2008

Lispector:

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar
Faça com que eu saiba ficar com o nada,
e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços o meu pecado de pensar

domingo, 16 de novembro de 2008

Sobre dar a cara a tapa:

É aquela velha história "você passa uma vida se preparando na escola, estudando coisas inúteis,e tudo esse conhecimento vai se resumir em algumas horas e alguns dias, em uma duas, ou quem sabe 3 provas..." sistema imundo, injusto, falido, eu podia dizer aqui mil vezes "é por isso que o país não vai pra frente", mas não digo, eu sou vítima deste sistema, estou no bolo, faço parte dele, sou óleo que faz a máquina girar, porque difícil mesmo é ver gente de verdade por trás de tanta prova, papel, documento, número de inscrição, a partir de hoje foi isso que percebi, somos todos um número, horas no sol, pra chegar a uma sala numerada e ter teu número numa cadeira, sentar nela e esperar mais alguns numerosos minutos, fazer uma prova com 60 e poucas questões, marcar o cartão, ir pra casa, ter esperança que tudo tenha dado certo, porque entenda; pra eles simplesmente não importa, e daí se você vai se matar se não for aprovado? você será só mais um que não aguentou, que não foi capaz, porque não há vagas pra todos, é seleção natural, Darwin explica, está no programa da prova, só os mais fortes e adaptados sobrevivem, você devia saber.

(é meio humilhante, mas, hoje, eu dei a minha, duas vezes.)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cold turkey endorphins; Waterworks, Inc.

Quase todos os dias eu consigo manter a cabeça acima d’água. a grande dierença é quando entre um gole no refrigerante (light, sou gorda) e um “acho que quero mais batatas”, inundando vêm e derrubam todos os castelinhos de areia que você tinha construído, a começar pelos calabouços, repletos de pesadelos que serviam de uma base pro castelo. irônico, um tanto, mas nada mais forte que medos para sustentar o peso do castelinho em suas rotinas. dentro das rotinas começam a surgir as torres. sonhos que parecem não estar presos à constituição térrea do castelo e querem chegar no céu. claro que toda torre tem sua princesa solitária, guardando um armário cheio de vestidos empoeirados. antes do dilúvio, a princesa tinha aberto o armário, lavado os vestidos, jogado fora aqueles que estavam cheios de traças.

ela estava quase disposta a usar um deles de novo. um daqueles vestidos tão cheios de uma essência que lhes transfere vida própria. um daqueles vestidos que você só pode usar sabendo que pessoas vão te comprimentar e querer saber da sua família. mas aí tudo veio por agua abaixo, né?

e tem sido assim desde que a gente lembra. vez ou outra aparece algum espertalhão perguntando porquê não constroem os castelos longe da água, ou até porque não seguram os portões da represa.

é que aqui em casa a gente gosta de ter o copo sempre cheio. não tem muito sentido em perpetuar essa metáfora muito mais, porque chover no molhado é apelido à essa altura do campeonato (ha.) mas sabe, não aguento ter que fingir sorrisos, rir de piadas sem graça e dar voltas bêbadas e sem muita coordenação às 4 da manhã.

eu preciso rir até meu estômago doer, sorrir até com os cabelos, porque a alegria é demais pra ser contida, gargalhar gritando a tarde inteira, porque todo o resto do mundo está trabalhando. mas aí tem horas que tudo isso é demais, e desaba. e só isso eu quis dizer. que estou ciente do que faço, e faço por escolha. eu podia me ‘curar’ e ser uma pessoa morna e seca. só não quero. obrigada.

Adaptando:

Vejo-me aqui agora, só aqui, parada e sem palavras, que o passado é o passado, o presente uma abstração, e o futuro se encurta, que pouco para mim será, contrita chego ao presente, tridimensionada e não dividida, fazendo o que penso que que sei ou que nunca saberei, que as palavras me atropelam e as idéias não me acodem, e quem sabe nunca me acudiram, na fragilidade dos rabiscos. Apesar e apesar em pertinância doída, vou rezando tempo em fora (...) Não espero o fim da caminhada, que meu tripé se plantou fundo â espera de outras dádivas que você há de me dar. O tempo já passou muito ao longo de minha vida, mas sempre há uma luz no túnel para o tempo â minha frente. (...) Poderá ser que sim, poderá ser que não. O futuro tão encurtado terá o que dizer ou não dirá mais nada.

(Caio Porfírio Carneiro; adaptado)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

The little things.- as únicas que valem a pena;

porque pessoas vão embora. porque lugares são todos iguais. porque ambições mudam e sonhos são esquecidos na hora de alimentar as crianças. porque duas horas no trânsito matam toda e qualquer vontade de correr descalço na chuva. filas no banco na hora do almoço só realçam a falta de sabor da comida do restaurante por quilo que tem na esquina de baixo. lembra daquela menina dos olhos brilhantes, a do vestido azul que você era apaixonado quando era criança? então, casou porque engravidou, e os olhos dela só brilham quando estão cheios de lágrimas refletindo a novela que ela assiste na tv 14” da cozinha enquanto lava a louça. lembra de todos os bichos de estimação que você já teve? morreram. e os que você tem agora vão morrer também. lembra do nome de todas as pessoas que você já beijou? lembra de quando você não tinha prestações pra pagar? lembra de aulas de ciências?

o que houve ali?

onde a gente se perdeu?

crescer não precisava ser tão ruim assim. podia ser só aqueles momentos de acordar no meio da noite e ter alguém segurando a tua mão. podia ser sair às terças-feiras sabendo que tem que acordar cedo na quarta pra trabalhar, e nem ligar. podia ser ter grupos de amigos que não se afastassem por causa de novas prioridades. e porque eu terminaria esse texto, mas ao invés de falar, resolvi agir e vou ali dar um abraço na minha amiga e dar risadas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Devolve, moço;

Devolve moço
Meu coração
Meus pensamentos
Devolve moço a minha fé
Devolve meus sentimentos

Devolve moço o tempo
Em que se ria desmedido
Em que amores não eram como o vidro

Torna, moço, cada momento inesquecível
Pouco importa se passe
O importante é que se guarde
Tudo que foi vivido

O que a gente é moço
É o que a gente sente
Por isso moço, me devolde
Eu quero ser pra sempre.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A verdade:

Manoela anda sem palavras.

sábado, 1 de novembro de 2008

Sobre a efemeridade das coisas:

Tudo parece acabar, escapar pelas mãos, sumir, quando mais precisamos, desaparecer, evaporar, terminar, tenho uma vida de intermináveis histórias mal-acabadas: amores, amizades, todos destruídos por nanição, pelo tempo, pela falta de tempo, pela distância, pela proximidade, "tudo demais é veneno", nós, reles mortais, tendemos a negar as raízes, quando vóvó diz: "tudo demais é veneno" a gente não acredita, sempre há o momento, aquele breve momento em que você tem certeza: "dessa vez vai ser pra sempre, dessa vez vai dar tudo certo, fomos feitos um pro outro, nada vai mudar isso", ledo engano: nada nunca vai dar certo, nem nessa, nem nas próximas mil vezes, as pessoas não são feitas umas pras outras, raramente conseguem transgredir o seu mundinho miseravelmente mesquinho olhar pro outro e enxergar nele um par, um igual, alguém que mereça seu afeto, sua sincera atenção, é preciso desprendimento, força de vontade pra fazer as coisas darem certo de fato, quase ninguém tem, quase ninguém quer, na maioria das vezes como narcisos desesperados por espelhos mergulhamos em novas relações com medo da solidão e do abandono, logo nos encontramos perdidamente apaixonados pelo nosso reflexo nos olhos dos que amamos, é bem simples: projeção, inconscientemente esquecemos que há alguém por traz daqueles olhos-espelhos, onde nos vemos tão belos, irresistivelmente belos, fazemos daquele ser o que nossa mente manda, esperamos dele o que desejamos, uma vez quebradas as expectativas, tudo parece um erro, um engano, nos sentimos traídos, fadados a desgraça, porque ninguém presta não é?, só você, bonzinho mesmo é você, o injustiçado, o coitado, o único que sofre... Veja bem caro leitor: não existe vítima neste mundo, não há uma só alma que seja inocente, a razão da efemeridade das coisas reside na natureza humana, transgredir isso tudo: a ordem natural das coisas (-nasce cresce morre, -inicio meio fim) tem se tornado cada vez mais impossível, porém, enquanto o coração bater forte na caixa do peito, da luta não me retiro.

(e este ano infernal que nunca termina?)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Simples verdades:


Esta é a minha escolha pela fé na vida e no ser humano, meu protesto em nome do amor, da delicadeza das palavras, dos corpos e até das almas, quero a existência mais doce e leve que o mundo pode me oferecer, quero a paz, o carinho, o entendimento, a paixão, quero tudo que vier com essa carga eletrizante de sentimentos que me move, tudo é um ciclo circular, pelo ciclo seco eu passei agora é tempo de cheia, na mente, na alma. no coração. Assim de leve, vagarosamente, a menina espera que a mesma cheia atinja os amores, amigos, as almas todas, hoje meu maior desejo é que todos os corações transbordem de tudo que melhor existe, se debrucem sobre o que é bom, sirvam-se do deleite das maiores delícias deste mundo, que nos confunde, desta vida, que nos arranca pedaços, ainda assim é bela, ainda assim é viva, se perceber vivo, despido de qualquer tristeza, mágoas infundadas ou profundas demais destroem quase tudo, dentro do quase reside a nossa melhor parte, extraia daí a força, a fé, sempre é tempo de acreditar, em si, nos outros, não se vista de pedra -ninguém é pedra, não se faça de vítima -ninguém é vítima, vivemos a Lei da Polaridade e precisamos dela, a noite nos faz reconhecer o dia, sem dor não haveria prazer, a tristeza nos ensina o valor da alegria, então para que questionar? Para que reclamar tanto? E as coisas boas? E as violetas na janela? não dê ao sofrimento mais nem menos, dê apenas o que ele merece, seja tempo, seja distância, o que levamos desta vida camarada é a vida que a gente leva, a felicidade tá embaixo do teu nariz, não vá espantá-la com um espirro.

(As pessoas sempre vão falar pois suas línguas lhe vencem os dentes e seus medos e inseguranças sempre acabam em dedos ao diferente. Então que se foda amor, que se foda se a palavra suja não rima. Que se foda amor, que se foda. Pecado é não viver a vida. -Dance of days.)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sem açucar:

Pare e olhe em volta, quem está do seu lado?, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe, alguém?, não?, e quem você deixou pra trás?, porque os deixou?, eles sabem?, eles sofrem?, sofreram?, você mudou?, todos mudam não é?, quantas acusações deste tipo você já fez?, do tipo: "você mudou. e está diferente comigo, não é mais a mesma pessoa", e como ela reagiu?, quantas vezes você mudou sem perceber e ninguém te avisou, ninguém teve coragem de te contar, e de repente a ausência tomou conta, não falar virou rotina, não ver, não ligar, não, a constância era negar, de repente o que antes fazia parte de ti agora nem existe, a dor da perda, o tradicional sofrimento veio, você sofreu, está sofrendo, ainda vai sofrer, por muitas horas, dias, semanas, o orgulho há de se debater numa batalha cruel com o amor, e se por um acaso ele vencer um dia você acordará e não sentirá mais, nem falta, nem vazio, um dia aquele buraco será preenchido, nunca mais será a mesma coisa, mas esse processo há de se repetir mil vezes, até que você mude novamente, ou o outro mude, e você vá embora, ou ele vá embora, assim, sem perceber, hoje você daria a vida por alguém, amanhã não resta nada, estás vazio, pronto pra próxima, precisando de outra pessoa, ninguém é insubstituível.

(com afeto.)

Nessa vida (trecho incompleto):




A vida é uma caixinha de surpresas
E quantas surpresas ela traz pra nossa vida!
E quanta vida nós ganhamos de presente
Nessa caixa de surpresa e de chegada e de saída!
Ponto de encontro e despedida
A vida é uma estrada de subidas e descidas
Essa estrada estranha que parece tão comprida
Mas que passa tão depressa com essa pressa suicida
Pressa que me apressa quando eu desço na banguela
Forte feito o Mickael do Skate na favela
Solto na ladeira eu solto o freio de mão
E ando sem as pernas porque eu tenho coração
Eu vou com o coração e com o coração eu vôo
Eu vou de coração e de coração eu dôo
o meu próprio coração e a vida que ele tem
que também foi doação, que eu recebi de alguém
- O presente valioso que é viver
Que a gente ganha e perde sem perceber
Que a gente adora e não sabe agradecer
Ou agradece e se esquece de fazer por merecer

A vida é uma carta sobre a mesa
E quantas tristezas ela obriga que eu suporte!
E quantas jogadas nós erramos realmente
Nesse jogo de azar e sorte, nascimento e morte?
(...)

(Gabriel Pensador)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Teatro dos vampiros:

Sempre precisei de uma certa carga de atenção, tenho certeza: não sei quem sou, contudo ainda consigo delimitar o que não gosto, jovem, querendo agarrar o mundo com os braços, com as pernas, com o corpo inteiro, milhões de informações, realidade, amor, medo, ódio, e tudo vem, tudo vai, tudo se choca, tudo muda, tudo, a busca é constante, a partir de um tempo nem se sabe mais o que se busca, só se busca, a imperfeição que é geral torna cada um único e todos especiais, quando é que se cresce?, como é que se cresce?, sofrimento é a matéria mais cobrada do curriculum, e nem tempo, nem experiência nos fazem especialistas nela, também não há como escapar, no caminho você encontra espelhos, opostos, comparsas, irmãos, pra te acompanhar nessa busca, viver não é um desafio para ser vencido, o deleite é o grande segredo, a diversão é a busca, e quem está ao seu lado enquanto se procura, não se sabe bem o que, e nem se deve saber.

domingo, 19 de outubro de 2008

Azedume:

Fui dormir, dormi, acordei, e aquele gosto azedo não deixou minha boca, meu corpo, minha mente, seus medos, suas palavras, suas aparições nas piores e nas melhores horas possíveis sempre me intrigaram, não sei o que fazer, na verdade não há o que fazer, estranho mesmo toda essa nossa história, que me roubou os anos, me tirou o sono, me ensinou a ser só, tão só e tão entregue ao ponto de nem sentir mais a sua falta, é como se você estivesse, mesmo quando não está, entende?, já faz parte de mim, é uma extensão independente, pra você existir em mim não precisa mais estar ao meu lado, nem por perto, alimento-me de lembranças, alimento minhas lembranças, pra que elas não morram de nanição, nem de ódio, nem de saudade, quero minhas lembranças vivas, saudáveis, preu seguir com você, ou melhor, com o que resta de você, na minha mente, no meu corpo, na minha boca como o gosto azedo, que não vai me abandonar.


( Tira esse azedume do meu peito
E com respeito trate minha dor
Se hoje sem você eu sofro tanto
Tens no meu pranto a certeza de um amor - Los Hermanos)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Hibernei:


Anyway, I can try
anything it's the same circle
that leads to nowhere and I'm tired now.

Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.

But don't be scared,
I found a good job and I go to work
every day on my old bicycle you loved.

I am pilling up some unread books under my bed
and I really think I'll never read again.

No concentration,
Just a white disorder
everywhere around me,
you know I'm so tired now.

But don't worry
I often go to dinners and parties
with some old friends who care for me,
Take me back home and stay.

Monochrome floors, monochrome walls,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.
Monochrome flat, monochrome life,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.

Sometimes I search an event
Or something to remind,
But I've really got nothing in mind.

Sometimes I open the windows
And listen people walking in the down streets.
There is a life out there.

But don't be scared,
I found a good job and I go to work
Every day on my old bicycle you loved.

Anyway, I can try
Anything it's the same circle
That leads to nowhere and I'm tired now.

Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.

But don't worry
I often go to dinners and parties
With some old friends who care for me,
Take me back home and stay.

Monochrome floors, monochrome walls,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.

(yann tiersen)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

2x2:




Voltando, parece que se eu olhar pra trás vou ver o mesmo rosto suado, lindo e cheio de dentes que me acompanhou naquela noite fria, todos os questionamentos banais, os sonhos indecifráveis, a vontade louca de fazer algo novo, sentir algo novo. Aquela gana por uma estória a dois completamente diferente de todas as outras que já viveu. Se é que já tinha vivido alguma.

Com o tempo, porém, as coisas ficaram mais sóbrias. Os sentimentos assumiram novas nuances. Ao mesmo tempo que a gente sente próximo, a gente sente longe. A gente nem sabia mais o que sentir, lá pelas tantas. Só ia levando. Sem notar, assim.

Hoje só resta uma lembrança apagada dos velhos dias, aqueles com mais sorrisos, mais lágrimas de felicidade, mais expectativa. Dias que traziam conforto e confiança. Não que hoje esteja tão ruim, tão longe de ser o que era. Tá bem, está mesmo muito longe de ser o que era. A gente sente saudade do que viveu, tanta saudade que é capaz até de esquecer que somos as mesmas pessoas que viveram isso há tanto (ou tão pouco) tempo atrás. O tempo traz estabilidade, sim, mas também traz medos, conhecimento demais sobre o outro, decepção, euforias contidas. Maturidade, dizem.

Ou seria imaturidade?

Gostar é gostar muitas vezes, de todas as formas possíveis. É mostrar que você pode gostar de uma pessoa depois que ela assumir a forma original, e não aquela que você imaginava que era a dela. Não encare como calúnia se as qualidades variarem com o passar dos dias, meses, anos. Leva mesmo muito tempo até a gente conhecer tudo aquilo que um dia escolheu pra si julgando ser o melhor. Escolhemos todos os dias, na verdade. Basta saber se o melhor pode mesmo ser o seu melhor pra sempre, independente das surpresas que traga, independente das mudanças que sofra. Porque gostar, desculpe decepcionar os inflexíveis aí, é ceder. Nem muito, nem pouco. O suficiente.

Apenas esse espaço suficiente para que o outro possa abrir os olhos e respirar e para que você possa colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz.

Um espaço maior que 2×2, onde os dois possam sorrir, e só.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ela cansou:

Helena tinha 22 anos, na época. Cabelos ruivos, lisos. Quilos a mais. Tinha sua vida, cheia de preocupações sobre nada. Seu emprego na firma de advocacia do tio, sua faculdade em vias de finalização, seu namoro de dois anos, sua família. Ela morava num bairro bom, tinha muitos amigos, gostava de dormir até tarde nos finais de semana. Como toda pessoa normal que se preze, nunca foi de negar um conforto. Tinha seus bons discos, milhares de filmes, travesseiro de penas, cama king-size.

Um dia, sem mais nem menos, voltando do trabalho e depois de passar na padaria, com seu tradicional saco-de-pão com três croissants de chocolate dentro como acompanhantes na poltrona de carona do carro, Helena cansou.

É, ela cansou. Quando dobrou a esquina e apertou no controle para abrir a garagem, tinha um carro estacionado ali na frente, trancando a passagem. Não que isso possa ser considerado um sinal de fim dos tempos, mas a verdade é que ha muito tempo ela dormia mal e pensava demais em coisas que não tinha controle.

Estacionou na rua mesmo, desceu do carro e entrou porta adentro. Não estava irritada e nem nervosa. Não iria descontar no irmão ou no cachorro, nem sequer os enxergava. Seus olhos estavam vendados. Ela temia que ao olhar no espelho sentisse uma ânsia incontrolável. Ela só sabia que tinha que tomar o banho dela, enrolar o cabelo, colocar a primeira roupa que visse pela frente e ir pra faculdade. Ela simplesmente não tinha mais tempo a perder cuspindo dragões pela boca.

Fez exatamente isso. Antes de sair de casa, bebeu um iogurte e comeu ferozmente seus croissants habituais, deixou um bilhete que voltaria mais tarde das aulas encima da mesa e foi.

Tem vezes na vida em que a gente sabe que algo se quebrou de uma forma impossível de colar os cacos novamente, e mesmo sabendo disso, não sabemos como agir exatamente. A gente quer ser tranqüilo, cabeça boa, relaxado. No fim, acaba criando em si mesmo esse monstro com doze cabeças, nervoso e ansioso, que mal consegue dar um passo após o outro sem checar o relógio e o pequeno manual de boas maneiras pra ver se esta fazendo a coisa certa.

Helena não queria mais fazer as coisas certas, parece que algumas ações tinham perdido a conveniência.

A verdade: não sabia mais o que a movia. Não era raiva, rancor ou repulsa. Antipatia, aversão… não. Mesmo assim, batia a lapiseira com força na classe e quebrou mais de uma vez a grafite. E nem sequer reparou. “Cansar não exige muito esforço, é só uma questão de ajustar o foco.”, disse uma amiga à ela na hora do intervalo, quando ela sutilmente comentou que estava esgotada.

No quarto período encontrou o namorado pelos corredores, ele comentou algo sobre o dia dele e ela não ouviu. Um zumbido escorregava pelos ouvidos dela, exercendo um bloqueio instantâneo. Marcaram de se ver no dia seguinte, mecanicamente como quem diz “o número dois, por favor” no Mc Donald’s. E ela assistiu à última aula, só de corpo presente, sua cabeça estava virada num jogo de montar de 5.000 peças.

Na volta pra casa, o som estava alto demais, quase bateu o carro. Um susto. Seguiu em frente, mas não queria, é, ela não queria voltar pra casa, colocar o pijama, checar emails, escovar os dentes, ler duas frases de um livro e cair no sono. Deu meia volta e rodou. Não se sabe bem se por dez minutos ou uma hora. Talvez duas, talvez três.

Desceu numa praça, bairro distante do centro da cidade. Sentou num dos bancos acabados de lá, encostou a cabeça numa árvore e nem havia pensado na possibilidade de estupro, ladrão, lobo mau. Baixou os olhos por instantes, assim, como fazem as pessoas que cansam.

Vinte minutos depois, entrou no carro e foi pra casa. Já passava das duas da madrugada, a família toda na sala com cara assustada, mas em silêncio, só o vento frio batia, quase gritava, na janela. Antes que alguém viesse perguntar alguma coisa, Helena foi pro quarto.

Sabe o que ela fez?

Dormiu.

Porque no dia seguinte tinha que acordar cedo e pensar novamente em trabalho, faculdade, família, namorado, amigos, cachorro. Ou em nada disso. Já estava tarde pra pensar em algo, e afinal, ao menos por um único dia na vida… Helena cansou.

[Pela manhã, já era outra. Ao mesmo tempo, era a mesma. Difícil explicar, mas estava mais leve do que nunca.]

. .

Preocupação demais em buscar os defeitos dos outros dá nisso. Só gera desgaste físico e mental. Não é fácil definir como plano de metas a ação “não olhar pra trás”. Não é fácil mudar. É mais acessível se decepcionar por toda e qualquer coisa que surja. Coisa que quando não surge a gente dá jeito de procurar e encontrar. E se não encontra, inventa. Com o passar dos anos a gente percebe que a maior verdade que existe é aquela que a gente conhece por conta própria, a nossa existência. O que a gente viveu nos últimos cinco minutos. Ou aquilo que pode, de alguma forma, ser mensurável. Falando assim, parece conversa fiada de quem têm pêlos no coração, mas não é. Até Helena cansou. Ela, que sempre fez questão de fazer tudo regrado, tudo por todos, pouco por ela. Imagina então se for falar da gente, poços ambulantes de egocentrismo. Porque um dia todo mundo cansa. O ideal é que a gente mude, ou mesmo provoque a mudança, antes que chegue esse dia. Assim como ela, que quase não notou, encarando como um exercício simples de tolerância e seguiu em frente no livro dos dias. É. Assim o efeito vai ser breve e indolor, como tudo deve ser. Ok, eu sei. Nada é como deveria ser.

.

Agora… Helena, querida. Vem cá, vem. Senta aqui perto de mim e explica como é que se faz.

[...]

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

F***.


Extremamente sensível e frágil, a realidade é essa, as coisas vão bem por aqui, por enquanto, e prefiro assim, aos poucos, por partes, senão tudo fica grande demais, pesado demais, faço jus a minha ascendência: grito, falo, sinto, tudo alto, tudo exagerado, não sei ser de outro jeito, não sei se quero, creio que não, confortável é se trancar dentro do próprio mundo, sempre, a salvo.


(a fucked up soul makes pair with a completly fucked up mind.)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Onde a sua capacidade de sonhar se escondeu?


Eu, do alto dos meus (ó) dezessete anos, imagino que deve ser uma merda não sonhar. Por isso é que a maioria dos jovens odeia crescer e ter obrigações e ter família e ter emprego fixo e uma televisão vinte e nove polegadas na sala e um bom carro na garagem e filhos que sejam anjinhos. Hm, não é exatamente isso que todo jovem quer hoje em dia? É. E é uma pena, mas é com isso que as pessoas “sonham” no século vinteeum. Eu não. Eu, que não sou nada, não sou filha de ninguém, não tenho sobrenome importante e só tenho dezessete anos, sonho com amores inesquecíveis, viagens carregando uma mochila e só, pessoas que vão me ensinar lições de vida em menos de cinco minutos, descobertas inimagináveis, livros que vão abrir cortes mais profundos dos que eu já tenho e muitas (muitas mesmo) coisas possíveis e impossíveis. É mais do que medíocre sonhar com uma televisão vinte e nove polegadas, um carro na garagem, dois filhos metidinhos e um marido meia-boca. Não. Eu não quero um marido, eu não quero exatamente dois filhos e não sonho com carros na garagem. Sonho com um cara que vai me fazer enxergar o mundo todo de outra forma. Sonho com o poder que eu (assim como a maioria das outras mulheres) tenho de fazer um novo ser humano crescer dentro de mim. Sonho com viagens de carro para lugares que eu sempre disse que nunca iria. Pena que sou só eu que sonho assim. Oquei, eu e mais a meia dúzia de pessoas que eu costumo apelidar de meus amigos. Os outros, não. Os outros querem carros na garagem e um bom emprego público. Os outros querem um(a) garoto(a) que não traga problemas, que tenha uma vida estável. Porra, você tem dezoito, vinte, vinte e cinco anos! E você já quer uma vida estável? Que tédio. Não vou entrar no mérito do sistema estar acabando com os sonhos das pessoas porque os que não gostam da cor vermelha vão me dizer que é só mais um discurso de uma garota anarco-punk-comunista-metidinha-a-mudar-o-mundo e mais mil qualidades que vão me atribuir à toa (logo eu que nem gosto de punk). Mas é verdade que o sistema destruiu os sonhos reais. Essas merdinhas aí que vocês pretendem conquistar ao longo da vida não merecem o nome de sonho. Sonho. [Do lat. somniu.] S. m. 4. Desejo veemente; aspiração; 5. Aquilo que enleva, transporta, pela extraordinária beleza natural ou estética; 7. Idéia dominante perseguida com interesse e paixão; 8. O que é produto da imaginação; fantasia, ilusão; quimera. Entende? Não é tudo que pode ser chamado de sonho. (Palavras são sempre mais perigosas do que a gente pode imaginar.) Eu até aceito que pessoas com mais de quarenta anos não sonhem mais. Entendo porque eu imagino que viver a vida inteira tendo que fazer 10¹³ coisas que você não gosta/quer faz com a pessoa fique sem a capacidade de sonhar. Eu entendo mesmo. Só que eu não aceito que você, com menos de trinta anos, já se dê ao luxo de querer tão pouco da vida. Porra, levanta daí e vai sonhar (direito).

(e não adianta procurá-la debaixo do carro novo)

Harvest; snacks and tissues.



I wish it was the 60’s and I had dreams. We all had dreams. Hard candy, cold water dreams. I wish all music was stereo and sounded as if we were inside it. Is it possible to not make typing mistakes? I wish there were more boat puzzles, where the ocean gets confused with the sky. The life of vanity and insanity. We could tell our children about the sunsets in California. We could tell our children about unwarm sunny days and the empty breeze of cloudy weather. We could tell our kids about rock and roll and forgiving. Tell my friends to come over to white sofas and right-angled furniture, in the happiness of our minds, the distorted confusion. Ten minutes of a song wouldn’t be enough. The playlist of life. I wish we could love like music loves us. I wish there was a perfect soundtrack and a perfect breath for every instant in life. We could sleep in blankets in bugless grass and drink sparkly mint drinks. We could be happy in the sand. We could be happy in the snow. We could be happy inside and out, candycould always be made of sugar and pink and brown and we could eat it all day long, counting the cars on the streets. I wish I could tell my love to be quiet and my heart to keep a pace. Does it ever? If there was beauty in every word and everyone was talented we could spend the nights counting the stars. Empty comfortable rooms, thick pillows, thick blankets. Thick white blankets. Who would come to my parties? Who would come along to seize the day? Finish the soda while staring at the silver meal. All of the time, all the sensations in my pores. We are all genetically made for desire. I bet nature never thought we could survive love.
As for me, guilty as charged, overwhelmed by the hour. And it feels damn good. playlist: like a hurricane, down by the river, i believe in you. all songs by neil young.

(Escrito em inglês sim, um presente para um amigo.)

Memória hospitalar azulada:




Lembro-me pouco do hospital, quase nada na verdade, lembro que fazia festas azuis com direito a docinhos e bolo de chocolate, que ia na lanchonete e separava pra mamãe todas as jujubas azuis de anís,(sempre odiei as de anís), tinha uma rampa espiralada, eu acho, grandes janelões de vidro, não sei porque sinto que a vista era linda, recordo vagamente uma espécie de terraço, o carpete era verde e confortável, um cheiro de casa, morei alí por anos, era minha casa, lembro dos exames, dos tampões e do s médicos, jamais esquecerei do medo, da paúra do bloco cirúrgico e da anestesia, o medo de morrer, de ver, e o de nunca mais ver nada, o gosto das lágrimas continua o mesmo, uma criança mimada chorava antes das cirurgias, ela ainda reside aqui, está presa, ou não, mamãe fez força todo o tempo pra que eu não sentisse nada, a idéia era passar por tudo como se o tudo nada fosse, mas é, o tudo mamãe é muito maior do que a senhora imagina, agora eu sinto, e o acumulo dos anos deixou o tudo cada vez pior, não você não me protegeria para sempre, e agora eu deixo a redoma de vidro que vocês decoraram tão bem para que eu vivesse confortavelmente inatingível, aqui está a minha escolha, quero ser superhumana, escolho sentir, atingir, e atingida ser, parece que foi ontem que perdi o balão azul (azul mamãe, a nossa cor preferida), posso sentir como naquele dia a cordinha escapando pelos dedos desta criança, (sim mamãe, ainda sou criança, pra compensar a infância que roubei de mim mesma) posso ver ele subindo em direção a clarabóia, é a mesma sensação de perda para sempre, ali o balão se tornou impossível, minha primeira grande perda, meu primeiro nunca mais, era azul, nossa cor preferida, tinha um nome, algo me diz que era inocência, mas minha memória anda me sabotando estes dias, e, lembro-me pouco do hospital...

sábado, 4 de outubro de 2008

Dia nada


Desde a hora em que acordei:
ninguém em casa

a única voz que escuto é a minha

estranho
a casa vazia, quase morta
sinal de nada

um por um

nossos planos foram desfeitos

não gosto de dias sem planos

parece um dia perdido

hoje não vivi

animalizei

-acordei

-comi

-dormi

arrumei meu quarto

meu ninho

a depressão não veio

nem ela

até ela

hoje me deixou só

todas as luzes amarelas acesas

para espantar qualquercoisa

avisam que hoje esta casa merecia uma festa

um encontro

boas risadas

boa música

mas o nada impera

o nada acontece
as esperanças são ralas.

Narciso e Narciso


Se Narciso se encontra com Narciso

e um deles finge
que ao outro admira

(para sentir-se admirado),

o outro

pela mesma razão finge também

e ambos acreditam na mentira.


Para Narciso

o olhar do outro, a voz

do outro, o corpo

é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.

E se o outro é
como ele

outro Narciso,

é espelho contra espelho:
o olhar que mira

reflete o que o admira

num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso

inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade

e assim

mais verdadeiro que a verdade.


Mas exige, o amor fingido,
ser sincero

o amor que como ele

é fingimento.


E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.

Assim amam-se agora
se odiando.

O espelho embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:

se torturam

se ferem

não se largam

que o inferno de Narciso

é ver que o admiravam de mentira.


(Ferreira Gullar
)


Desabafo:



"A intimidade é um caminho sem volta" todos sabem, a regra é clara e os avisos estão em toda parte, eu odeio a intimidade, porque ela sempre chega, inevitavelmente, traz junto a si a rotina, as brigas, as neuroses diárias, que nunca mudam, nunca acabam. Faz parte de qualquer relacionamento o ponto em que se sente confortável demais, para dizer, subentender, agir, esquecer, ou até fingir, a convivência traz intimidade e a intimidade arruína tudo. É quando você conhece alguém o bastante pra saber onde está, o que está fazendo, pensando, o que diria em determinada situação, você é intimo, e você sabe, sabe quando está mentindo, por mais que ainda te mintam, sabe quando as coisas não vão dar certo, por mais que jurem pra ti o contrário, que se fodam os espelhos, que se fodam os laços, nessa vida ninguém presta, são vários sacos de farinha todos em uma grande fila, (são farinhas diferentes mas cada uma tem seu saco, e cada saco está entupido até a borda de seus iguais) não, não confio em ninguém, e não duvido de mais nada.


(
Intimidade

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

[ José Saramago]
)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Gaiola de ouro:



Pássaro de asas cortadas já não canta, não canta nem voa, gosto amargo na mente enche a boca, ela quase não abre, a gaiola é grande, cheia de outros pássaros, nenhum é como aquele, aquele é maior, mais bonito, quando tinha asas cantava mais alto, os outros não gostavam, mandaram aparar-lhe as asas, agora vive amoado, preso, foi vencido pelo mundo, isso que dá ser único em gaiola cheia, tinham medo (ele pensava), sozinho, passava a maior parte do tempo em seu ninho artificial, lá guardava suas coisinhas, o pouco que lhe agradava, tudo que lhe fazia sentir parte, ainda que pequena, de algo maior, o que lhe aproximava dos outros, se agarrava aquilo com força, era visto, sempre de longe, como um louco (ser diferente gerava indiferença), viver alí não era pra ele, não era o bastante, ele sabia, toda sobre-vida era curta, queria fugir, sonhava. Preso, quem diria, por cantar... agora choraminga sua tristeza; o único meio de fugir da maldita gaiola de ouro.

O verdadeiro banquete:


Um pouco de vingança faz bem, e não há quem prove o contrário, nada como ver no inferno quem um dia te jogou lá, demasiado humano eu sei, porém essa é a realidade, "você vai morrer e não vai pro céu, é bom aprender, a vida é cruel", quantas das suas desgraças não foram desejadas por outros?, quanto sofrimento teu não foi culpa da praga alheia bem rogada?, duvida?, acho perda de tempo acreditar que é possível ser bom, carregar no peito um coração cem porcento puro, virgem, imaculado, não se negue suas maldades, não esconda seus pensamentos profanos, é disso que as pessoas precisam: subverter o mal, entender que nem todo mal é necessáriamente ruim e que a maioria deles é bastante necessária, justificável, deixe isso fluir dentro de você, amadureça a idéia dos desvios de caráter, eles fazem parte do caminho, não tenha medo da vingança, da vontade da vingança, muito menos da realização dela, a vingança é quase sempre merecida, um prato que se come frio, as vezes gelado, perca a timidez em devorá-lo: o melhor tempero é a fome.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Salva-vida:


É hora de morrer pro inimigo que vive em mim, um sem fim de desventuras acontece o tempo todo, estado de constante desgraça nesta humilde vida, já não me surpreende mais a dor ou o sofrimento, nem poderia, a vida é circular, tudo é ciclo, o maldito amor é supremo, não farei da minha vida uma guerra, tempos secos existem para que se valorize as cheias, não há nada que me prove o contrário, então aqui estou eu, valorizando o momento, que é meio seco/meio cheio, nada certo, mas é momento, tem seu valor, tem sua lição, aqui me dispo dos medos me agarrando a sorte, a serenidade das incertezas da minha breve porém consistente existência, aqui sempre resistirá a esperança, é a cortesia dos Deuses aos que sentem muito, aos que sonham demais, cortesia para os que pulam do penhasco acreditando que serão salvos antes de se esfacelarem no chão, durante muito tempo esperei ser salva, aqui estou eu abolindo o "pra sempre" para todo bem e mal, me declaro um parêntese sempre em aberto, reticente eternidade, a única certeza da minha existência é a vida, da morte só sei o descanso, o resto é mistério, aproveito o tempo que tenho, sigo me salvando cada vez mais.


(...)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um convite inusitado:


Hoje o teatro me chamou pra voltar, ele dsse: "volta pro palco", eu não pensei nem meia vez, sete anos depois darei vida nova a minha primeira personagem, aquilo que foi um parto, primeiro desafio, talvez por destino, encerrará o meu jejum de quase um ano longe das cochias, hoje terreno já tão conhecido, agora mais maduro, mais seguro, D.Alma está de volta, espero fazer jus a este espetáculo, o certo é que todo meu coração estará alí, como sempre esteve, hoje o bom filho a casa torna, tomo de volta o meu lugar, com a certeza de que jamais deveria ter saído de lá.

foi o melhor convite, o melhor presente, a melhor supresa possivel, meu mundo voltou a girar, e agora sim tem um novo sentido, viver pra arte, como sempre foi até aqui, me sentir completamente plural, como sempre fui.




(é isso e lá pelos meados de novembro, no teatro do dragão do mar, mais uma vez serei A avarenta, de Moliére adaptado por Charles Dickens e revisto por Tonico lacerda cruz, vá me ver, caro leitor.)


.

sábado, 27 de setembro de 2008

Sonho:



Numa floresta de macieiras ela o seguia, sua voz era como a canção do flautista e ela uma criança curiosa, macieiras, macieiras, vermelhas, azuis, roxas... maçãs, se sentia segura, atendia o chamado, trilhava com ele o caminho, pararam entre as duas últimas macieiras da floresta, ele a entregou uma maçã vermelha, um sorriso, a maçã foi guardada, como que para depois, estendeu a mão para ela, as palavras mais que mágicas estavam gravadas em seu antebraço: "Amittere non potest quis, quod suum non fuit", os dois sabiam, ali, as duvidas se esgotaram, qualquer dor desapareceu, era seguro, era certo, deram as mãos, avistaram o antigo castelo medieval de pedra, "é ali o castelo do rei" ele disse, levando-a pela mão cruzaram o foço, chegaram a frente da enorme porta, que se abriu sem o mínimo esforço, entraram juntos, e isso é tudo.


.
("Então que se foda amor, que se foda, se a palavra suja não rima. Que se foda amor, que se foda. Pecado é não viver a vida. Então esquece tudo e vem, que a vida é assim, e se a gente deixar de viver, não vai dar tempo de sorrir. Vamos pegar essa estrada, e sentir o vento cantando esta música, que conhecemos mais que nós mesmos." Dance of days- Interlúdio Para Um Bar de Beira de Estrada Por 33 Anos Fora do Mapa)
.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A constante inevitável:


De vez em quando o que é ruim nos domina, é simples, ele vem chegando devagar, e de pouquinho em pouquinho lhe toma por inteiro, quando se vê já é tarde, tudo escuro, sofrer inevitável, então precisa-se de férias, uma espécie de "licença da rotina", demanda tempo, coragem, fé, justamente aí vem a correria, a fraqueza, o ceticismo, parecemos ter apenas o oposto do que precisamos, vazios, a solidão nos encontra, sufocados, exaustos, o sentido desaparece, nos perdemos pra nós mesmos, e perceber a perda exige amor próprio, se recuperar exige força de vontade, quando a solução é quase invisível, como que por um milagre a luz chega bem mais lenta que as trevas, vai penetrando cada fresta de esperança, iluminando o caminho, nada nunca mais é igual depois de passar por esse ciclo que se repete constantemente, todos passam por ele, alguns ficam presos, outros correm fugindo, não adianta, cedo ou tarde ele te pega pelo pé e te ensina o valor da vida, da amizade, do amor, da família, e especialmente, ensina o seu valor, é ele que movimenta o universo, que torna as pessoas mais humanas, superação para cada nova etapa daquilo que nunca termina, o espiral da vida é infinito do tamanho das nossas possibilidades diante dele.


(amém!)

Porcos e diamantes:



Não, não é porque somos porcos que precisamos chafurdar na lama, "quando percebi que o mundo é sujo, tratei de me sujar também", bela desculpa mas... veja bem, não faz sentido, alguns porcos são limpos, mesmo que a maioria seja imunda, é certo que uma vez ou outra mesmo os mais higiénicos passam pelo chiqueiro e provam da lavagem, o importante é não ceder a maioria, uma vez chafurdando, sempre chafurdando, limpar um porco sujo é missão impossível, as chances dele voltar ao chiqueiro são muito grandes, mais que isso, se você estiver limpo as chances dele (no mínimo) tentar lhe sujar são enormes, não vale a pena.
-
-Para os que resistem aos encantos da sujeira o prémio é a margem, são seres raros, superiores, exemplares quase únicos num meio enlameado.
-Para os que insistem o castigo é a convivência, dependência, alienação de viver ser e sentir igual a todos os outros porcos imundos, que se lambuzam diariamente na lama da sociedade, saboreando de bom grado a lavagem que lhes é oferecida, à eterna procura, ganho e perda de diamantes.
-

(snatch)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

(Desgraçada)mente:


Uma multidão de pernas encolhidas e cabeças baixas, suicidas em potencial, as pessoas andam desistindo fácil, ou não, é difícil mesmo sobre(viver) a sociedade que criamos, cruelmente, a cada dia mais alguém dá início a sua depressão, "alguéns" na verdade, não tarda teremos um novo mal do século mil vezes pior que o anterior completamente instalado no ser humano até a última fibra do seu corpo desconjuntado, um legião de infelizes, deprimidos, angustiados, anti-depressivos... ah os tormentos da vida moderna, é o fim, as coisas que possuímos acabaram possuindo a gente (você estava certo Tyler), o amor não faz mais sentido, Deus e a fé são completamente desacreditados pela massa cética que tomou conta, viver perdeu a graça, não é mais bonito, nem divertido, resultado de um amadurecimento pobre em inteligência emocional que gera adolescentes caóticos e adultos vazios, seres completamente instáveis, não há segurança, o sentido da existência foi deturpado, e ái de quem ainda ousa sentir e ser nos tempos do agir e ter, o fato é que aqui o futuro parece péssimo e o presente não está perdendo, o que se perdeu mesmo foi a fé, os sonhos, a (boa) vontade... Vejo uma geração de artistas sendo gerada, todos filhos da desgraçada fatalidade que acompanha estas décadas, não vejo nada de bom sendo deixado para os próximos, só uma receita do que não se deve fazer, para que eles tentem ser um pouco menos infelizes.


(A maior expressão de angústia, pode ser a depressão, tudo que você nem sente, indefinível, mas não tente se matar, pelo menos essa noite não.)

Minha aventura:


As palavras aqui tem se repetido bastante: inferno, sofrimento, dor, depressão, família, ódio, diário, cotidiano, falta, amigos, aula, decepção, não, perda, perdida, culpa, "não sei", "não quero"... Onde foram parar as possibilidades?, o positivo parece morto e enterrado, e o meu vocabulário invertido, antes cantava uma felicidade sem precedentes, não que eu seja infeliz, mas estou infeliz, espero ser por pouco tempo, o que me falta mesmo é a aceitação dos outros no sentido de acolherem o meu sentimento, remédios não tem nada com isso, acordar é um momento trágico, vontade de dormir pra sempre sem morrer, simplesmente passar por isso em paz, num sono profundo, longe de quem só piora o que já está difícil, esse é o meu momento, a minha dor, eu tenho direito de vive-lo, preciso passar por ele, sofrer ensina, é ciclo seco, ninguém tem culpa, demanda dias, meses, não vou mais esconder, já disse, não vou renunciar a mim, nenhuma parte, nenhum pedaço, deste ser errante, vibrante, sujo, quente, hoje triste, melancólico, sensível, e daí?, sou bem grandinha para lidar com a desgraça, já aguentei muito, era bem pior quando escondia, você nunca me viu trancada gritando com a boca tampada no banheiro simplesmente porque doía e jamais alguém poderia me imaginar assim, agora entendo porque, porque não suportam sofrimento, querem pessoas que vivem em comerciais de margarina,(sorrindo sempre despudoradamente, aquilo é quase um crime), gente deprimida, arrasada, deprime os outros, atrapalha, o homem pode suportar a própria dor mas não a do vizinho, me poupe, me economize, desde quando o ser humano é tão autruista assim? Minha dor, MINHA, não sua, finalmente ela encontrou um caminho para sair daqui de dentro, de um jeito ou de outro ela vai sair, novamente aqui estou: fraca, suja, doída, desmascarada, aos pedaços... e desde que me deixem passar em paz por isso, em breve me sentirei muito bem, obrigada.



(se ao menos no escuro eu conseguisse apagar, dormir sem sonhar, apenas dormir, sem sonhar.)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Auto-poética:




O pouco que estes olhos enxergam
Não gostam

Me perguntam se queria mais

Não quero

As pessoas não me entendem

Não sou
Todos seguem um caminho

Não vou.

(...)

Manoela não tem par

Falta um, dois, três

Não há vivalma que a complete

Ela não tem espelho
Não tem encontro

Não tem medida

Manoela não tem freios

Ela não sabe ser de outro jeito

Ela se perde pra se encontrar

Vive de procurar
motivo, maneira, razão...

Manoela não tem par

E é tudo culpa dela

Ela, Manoela.