quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Simples verdades:


Esta é a minha escolha pela fé na vida e no ser humano, meu protesto em nome do amor, da delicadeza das palavras, dos corpos e até das almas, quero a existência mais doce e leve que o mundo pode me oferecer, quero a paz, o carinho, o entendimento, a paixão, quero tudo que vier com essa carga eletrizante de sentimentos que me move, tudo é um ciclo circular, pelo ciclo seco eu passei agora é tempo de cheia, na mente, na alma. no coração. Assim de leve, vagarosamente, a menina espera que a mesma cheia atinja os amores, amigos, as almas todas, hoje meu maior desejo é que todos os corações transbordem de tudo que melhor existe, se debrucem sobre o que é bom, sirvam-se do deleite das maiores delícias deste mundo, que nos confunde, desta vida, que nos arranca pedaços, ainda assim é bela, ainda assim é viva, se perceber vivo, despido de qualquer tristeza, mágoas infundadas ou profundas demais destroem quase tudo, dentro do quase reside a nossa melhor parte, extraia daí a força, a fé, sempre é tempo de acreditar, em si, nos outros, não se vista de pedra -ninguém é pedra, não se faça de vítima -ninguém é vítima, vivemos a Lei da Polaridade e precisamos dela, a noite nos faz reconhecer o dia, sem dor não haveria prazer, a tristeza nos ensina o valor da alegria, então para que questionar? Para que reclamar tanto? E as coisas boas? E as violetas na janela? não dê ao sofrimento mais nem menos, dê apenas o que ele merece, seja tempo, seja distância, o que levamos desta vida camarada é a vida que a gente leva, a felicidade tá embaixo do teu nariz, não vá espantá-la com um espirro.

(As pessoas sempre vão falar pois suas línguas lhe vencem os dentes e seus medos e inseguranças sempre acabam em dedos ao diferente. Então que se foda amor, que se foda se a palavra suja não rima. Que se foda amor, que se foda. Pecado é não viver a vida. -Dance of days.)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sem açucar:

Pare e olhe em volta, quem está do seu lado?, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe, alguém?, não?, e quem você deixou pra trás?, porque os deixou?, eles sabem?, eles sofrem?, sofreram?, você mudou?, todos mudam não é?, quantas acusações deste tipo você já fez?, do tipo: "você mudou. e está diferente comigo, não é mais a mesma pessoa", e como ela reagiu?, quantas vezes você mudou sem perceber e ninguém te avisou, ninguém teve coragem de te contar, e de repente a ausência tomou conta, não falar virou rotina, não ver, não ligar, não, a constância era negar, de repente o que antes fazia parte de ti agora nem existe, a dor da perda, o tradicional sofrimento veio, você sofreu, está sofrendo, ainda vai sofrer, por muitas horas, dias, semanas, o orgulho há de se debater numa batalha cruel com o amor, e se por um acaso ele vencer um dia você acordará e não sentirá mais, nem falta, nem vazio, um dia aquele buraco será preenchido, nunca mais será a mesma coisa, mas esse processo há de se repetir mil vezes, até que você mude novamente, ou o outro mude, e você vá embora, ou ele vá embora, assim, sem perceber, hoje você daria a vida por alguém, amanhã não resta nada, estás vazio, pronto pra próxima, precisando de outra pessoa, ninguém é insubstituível.

(com afeto.)

Nessa vida (trecho incompleto):




A vida é uma caixinha de surpresas
E quantas surpresas ela traz pra nossa vida!
E quanta vida nós ganhamos de presente
Nessa caixa de surpresa e de chegada e de saída!
Ponto de encontro e despedida
A vida é uma estrada de subidas e descidas
Essa estrada estranha que parece tão comprida
Mas que passa tão depressa com essa pressa suicida
Pressa que me apressa quando eu desço na banguela
Forte feito o Mickael do Skate na favela
Solto na ladeira eu solto o freio de mão
E ando sem as pernas porque eu tenho coração
Eu vou com o coração e com o coração eu vôo
Eu vou de coração e de coração eu dôo
o meu próprio coração e a vida que ele tem
que também foi doação, que eu recebi de alguém
- O presente valioso que é viver
Que a gente ganha e perde sem perceber
Que a gente adora e não sabe agradecer
Ou agradece e se esquece de fazer por merecer

A vida é uma carta sobre a mesa
E quantas tristezas ela obriga que eu suporte!
E quantas jogadas nós erramos realmente
Nesse jogo de azar e sorte, nascimento e morte?
(...)

(Gabriel Pensador)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Teatro dos vampiros:

Sempre precisei de uma certa carga de atenção, tenho certeza: não sei quem sou, contudo ainda consigo delimitar o que não gosto, jovem, querendo agarrar o mundo com os braços, com as pernas, com o corpo inteiro, milhões de informações, realidade, amor, medo, ódio, e tudo vem, tudo vai, tudo se choca, tudo muda, tudo, a busca é constante, a partir de um tempo nem se sabe mais o que se busca, só se busca, a imperfeição que é geral torna cada um único e todos especiais, quando é que se cresce?, como é que se cresce?, sofrimento é a matéria mais cobrada do curriculum, e nem tempo, nem experiência nos fazem especialistas nela, também não há como escapar, no caminho você encontra espelhos, opostos, comparsas, irmãos, pra te acompanhar nessa busca, viver não é um desafio para ser vencido, o deleite é o grande segredo, a diversão é a busca, e quem está ao seu lado enquanto se procura, não se sabe bem o que, e nem se deve saber.

domingo, 19 de outubro de 2008

Azedume:

Fui dormir, dormi, acordei, e aquele gosto azedo não deixou minha boca, meu corpo, minha mente, seus medos, suas palavras, suas aparições nas piores e nas melhores horas possíveis sempre me intrigaram, não sei o que fazer, na verdade não há o que fazer, estranho mesmo toda essa nossa história, que me roubou os anos, me tirou o sono, me ensinou a ser só, tão só e tão entregue ao ponto de nem sentir mais a sua falta, é como se você estivesse, mesmo quando não está, entende?, já faz parte de mim, é uma extensão independente, pra você existir em mim não precisa mais estar ao meu lado, nem por perto, alimento-me de lembranças, alimento minhas lembranças, pra que elas não morram de nanição, nem de ódio, nem de saudade, quero minhas lembranças vivas, saudáveis, preu seguir com você, ou melhor, com o que resta de você, na minha mente, no meu corpo, na minha boca como o gosto azedo, que não vai me abandonar.


( Tira esse azedume do meu peito
E com respeito trate minha dor
Se hoje sem você eu sofro tanto
Tens no meu pranto a certeza de um amor - Los Hermanos)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Hibernei:


Anyway, I can try
anything it's the same circle
that leads to nowhere and I'm tired now.

Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.

But don't be scared,
I found a good job and I go to work
every day on my old bicycle you loved.

I am pilling up some unread books under my bed
and I really think I'll never read again.

No concentration,
Just a white disorder
everywhere around me,
you know I'm so tired now.

But don't worry
I often go to dinners and parties
with some old friends who care for me,
Take me back home and stay.

Monochrome floors, monochrome walls,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.
Monochrome flat, monochrome life,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.

Sometimes I search an event
Or something to remind,
But I've really got nothing in mind.

Sometimes I open the windows
And listen people walking in the down streets.
There is a life out there.

But don't be scared,
I found a good job and I go to work
Every day on my old bicycle you loved.

Anyway, I can try
Anything it's the same circle
That leads to nowhere and I'm tired now.

Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.

But don't worry
I often go to dinners and parties
With some old friends who care for me,
Take me back home and stay.

Monochrome floors, monochrome walls,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.

(yann tiersen)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

2x2:




Voltando, parece que se eu olhar pra trás vou ver o mesmo rosto suado, lindo e cheio de dentes que me acompanhou naquela noite fria, todos os questionamentos banais, os sonhos indecifráveis, a vontade louca de fazer algo novo, sentir algo novo. Aquela gana por uma estória a dois completamente diferente de todas as outras que já viveu. Se é que já tinha vivido alguma.

Com o tempo, porém, as coisas ficaram mais sóbrias. Os sentimentos assumiram novas nuances. Ao mesmo tempo que a gente sente próximo, a gente sente longe. A gente nem sabia mais o que sentir, lá pelas tantas. Só ia levando. Sem notar, assim.

Hoje só resta uma lembrança apagada dos velhos dias, aqueles com mais sorrisos, mais lágrimas de felicidade, mais expectativa. Dias que traziam conforto e confiança. Não que hoje esteja tão ruim, tão longe de ser o que era. Tá bem, está mesmo muito longe de ser o que era. A gente sente saudade do que viveu, tanta saudade que é capaz até de esquecer que somos as mesmas pessoas que viveram isso há tanto (ou tão pouco) tempo atrás. O tempo traz estabilidade, sim, mas também traz medos, conhecimento demais sobre o outro, decepção, euforias contidas. Maturidade, dizem.

Ou seria imaturidade?

Gostar é gostar muitas vezes, de todas as formas possíveis. É mostrar que você pode gostar de uma pessoa depois que ela assumir a forma original, e não aquela que você imaginava que era a dela. Não encare como calúnia se as qualidades variarem com o passar dos dias, meses, anos. Leva mesmo muito tempo até a gente conhecer tudo aquilo que um dia escolheu pra si julgando ser o melhor. Escolhemos todos os dias, na verdade. Basta saber se o melhor pode mesmo ser o seu melhor pra sempre, independente das surpresas que traga, independente das mudanças que sofra. Porque gostar, desculpe decepcionar os inflexíveis aí, é ceder. Nem muito, nem pouco. O suficiente.

Apenas esse espaço suficiente para que o outro possa abrir os olhos e respirar e para que você possa colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz.

Um espaço maior que 2×2, onde os dois possam sorrir, e só.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ela cansou:

Helena tinha 22 anos, na época. Cabelos ruivos, lisos. Quilos a mais. Tinha sua vida, cheia de preocupações sobre nada. Seu emprego na firma de advocacia do tio, sua faculdade em vias de finalização, seu namoro de dois anos, sua família. Ela morava num bairro bom, tinha muitos amigos, gostava de dormir até tarde nos finais de semana. Como toda pessoa normal que se preze, nunca foi de negar um conforto. Tinha seus bons discos, milhares de filmes, travesseiro de penas, cama king-size.

Um dia, sem mais nem menos, voltando do trabalho e depois de passar na padaria, com seu tradicional saco-de-pão com três croissants de chocolate dentro como acompanhantes na poltrona de carona do carro, Helena cansou.

É, ela cansou. Quando dobrou a esquina e apertou no controle para abrir a garagem, tinha um carro estacionado ali na frente, trancando a passagem. Não que isso possa ser considerado um sinal de fim dos tempos, mas a verdade é que ha muito tempo ela dormia mal e pensava demais em coisas que não tinha controle.

Estacionou na rua mesmo, desceu do carro e entrou porta adentro. Não estava irritada e nem nervosa. Não iria descontar no irmão ou no cachorro, nem sequer os enxergava. Seus olhos estavam vendados. Ela temia que ao olhar no espelho sentisse uma ânsia incontrolável. Ela só sabia que tinha que tomar o banho dela, enrolar o cabelo, colocar a primeira roupa que visse pela frente e ir pra faculdade. Ela simplesmente não tinha mais tempo a perder cuspindo dragões pela boca.

Fez exatamente isso. Antes de sair de casa, bebeu um iogurte e comeu ferozmente seus croissants habituais, deixou um bilhete que voltaria mais tarde das aulas encima da mesa e foi.

Tem vezes na vida em que a gente sabe que algo se quebrou de uma forma impossível de colar os cacos novamente, e mesmo sabendo disso, não sabemos como agir exatamente. A gente quer ser tranqüilo, cabeça boa, relaxado. No fim, acaba criando em si mesmo esse monstro com doze cabeças, nervoso e ansioso, que mal consegue dar um passo após o outro sem checar o relógio e o pequeno manual de boas maneiras pra ver se esta fazendo a coisa certa.

Helena não queria mais fazer as coisas certas, parece que algumas ações tinham perdido a conveniência.

A verdade: não sabia mais o que a movia. Não era raiva, rancor ou repulsa. Antipatia, aversão… não. Mesmo assim, batia a lapiseira com força na classe e quebrou mais de uma vez a grafite. E nem sequer reparou. “Cansar não exige muito esforço, é só uma questão de ajustar o foco.”, disse uma amiga à ela na hora do intervalo, quando ela sutilmente comentou que estava esgotada.

No quarto período encontrou o namorado pelos corredores, ele comentou algo sobre o dia dele e ela não ouviu. Um zumbido escorregava pelos ouvidos dela, exercendo um bloqueio instantâneo. Marcaram de se ver no dia seguinte, mecanicamente como quem diz “o número dois, por favor” no Mc Donald’s. E ela assistiu à última aula, só de corpo presente, sua cabeça estava virada num jogo de montar de 5.000 peças.

Na volta pra casa, o som estava alto demais, quase bateu o carro. Um susto. Seguiu em frente, mas não queria, é, ela não queria voltar pra casa, colocar o pijama, checar emails, escovar os dentes, ler duas frases de um livro e cair no sono. Deu meia volta e rodou. Não se sabe bem se por dez minutos ou uma hora. Talvez duas, talvez três.

Desceu numa praça, bairro distante do centro da cidade. Sentou num dos bancos acabados de lá, encostou a cabeça numa árvore e nem havia pensado na possibilidade de estupro, ladrão, lobo mau. Baixou os olhos por instantes, assim, como fazem as pessoas que cansam.

Vinte minutos depois, entrou no carro e foi pra casa. Já passava das duas da madrugada, a família toda na sala com cara assustada, mas em silêncio, só o vento frio batia, quase gritava, na janela. Antes que alguém viesse perguntar alguma coisa, Helena foi pro quarto.

Sabe o que ela fez?

Dormiu.

Porque no dia seguinte tinha que acordar cedo e pensar novamente em trabalho, faculdade, família, namorado, amigos, cachorro. Ou em nada disso. Já estava tarde pra pensar em algo, e afinal, ao menos por um único dia na vida… Helena cansou.

[Pela manhã, já era outra. Ao mesmo tempo, era a mesma. Difícil explicar, mas estava mais leve do que nunca.]

. .

Preocupação demais em buscar os defeitos dos outros dá nisso. Só gera desgaste físico e mental. Não é fácil definir como plano de metas a ação “não olhar pra trás”. Não é fácil mudar. É mais acessível se decepcionar por toda e qualquer coisa que surja. Coisa que quando não surge a gente dá jeito de procurar e encontrar. E se não encontra, inventa. Com o passar dos anos a gente percebe que a maior verdade que existe é aquela que a gente conhece por conta própria, a nossa existência. O que a gente viveu nos últimos cinco minutos. Ou aquilo que pode, de alguma forma, ser mensurável. Falando assim, parece conversa fiada de quem têm pêlos no coração, mas não é. Até Helena cansou. Ela, que sempre fez questão de fazer tudo regrado, tudo por todos, pouco por ela. Imagina então se for falar da gente, poços ambulantes de egocentrismo. Porque um dia todo mundo cansa. O ideal é que a gente mude, ou mesmo provoque a mudança, antes que chegue esse dia. Assim como ela, que quase não notou, encarando como um exercício simples de tolerância e seguiu em frente no livro dos dias. É. Assim o efeito vai ser breve e indolor, como tudo deve ser. Ok, eu sei. Nada é como deveria ser.

.

Agora… Helena, querida. Vem cá, vem. Senta aqui perto de mim e explica como é que se faz.

[...]

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

F***.


Extremamente sensível e frágil, a realidade é essa, as coisas vão bem por aqui, por enquanto, e prefiro assim, aos poucos, por partes, senão tudo fica grande demais, pesado demais, faço jus a minha ascendência: grito, falo, sinto, tudo alto, tudo exagerado, não sei ser de outro jeito, não sei se quero, creio que não, confortável é se trancar dentro do próprio mundo, sempre, a salvo.


(a fucked up soul makes pair with a completly fucked up mind.)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Onde a sua capacidade de sonhar se escondeu?


Eu, do alto dos meus (ó) dezessete anos, imagino que deve ser uma merda não sonhar. Por isso é que a maioria dos jovens odeia crescer e ter obrigações e ter família e ter emprego fixo e uma televisão vinte e nove polegadas na sala e um bom carro na garagem e filhos que sejam anjinhos. Hm, não é exatamente isso que todo jovem quer hoje em dia? É. E é uma pena, mas é com isso que as pessoas “sonham” no século vinteeum. Eu não. Eu, que não sou nada, não sou filha de ninguém, não tenho sobrenome importante e só tenho dezessete anos, sonho com amores inesquecíveis, viagens carregando uma mochila e só, pessoas que vão me ensinar lições de vida em menos de cinco minutos, descobertas inimagináveis, livros que vão abrir cortes mais profundos dos que eu já tenho e muitas (muitas mesmo) coisas possíveis e impossíveis. É mais do que medíocre sonhar com uma televisão vinte e nove polegadas, um carro na garagem, dois filhos metidinhos e um marido meia-boca. Não. Eu não quero um marido, eu não quero exatamente dois filhos e não sonho com carros na garagem. Sonho com um cara que vai me fazer enxergar o mundo todo de outra forma. Sonho com o poder que eu (assim como a maioria das outras mulheres) tenho de fazer um novo ser humano crescer dentro de mim. Sonho com viagens de carro para lugares que eu sempre disse que nunca iria. Pena que sou só eu que sonho assim. Oquei, eu e mais a meia dúzia de pessoas que eu costumo apelidar de meus amigos. Os outros, não. Os outros querem carros na garagem e um bom emprego público. Os outros querem um(a) garoto(a) que não traga problemas, que tenha uma vida estável. Porra, você tem dezoito, vinte, vinte e cinco anos! E você já quer uma vida estável? Que tédio. Não vou entrar no mérito do sistema estar acabando com os sonhos das pessoas porque os que não gostam da cor vermelha vão me dizer que é só mais um discurso de uma garota anarco-punk-comunista-metidinha-a-mudar-o-mundo e mais mil qualidades que vão me atribuir à toa (logo eu que nem gosto de punk). Mas é verdade que o sistema destruiu os sonhos reais. Essas merdinhas aí que vocês pretendem conquistar ao longo da vida não merecem o nome de sonho. Sonho. [Do lat. somniu.] S. m. 4. Desejo veemente; aspiração; 5. Aquilo que enleva, transporta, pela extraordinária beleza natural ou estética; 7. Idéia dominante perseguida com interesse e paixão; 8. O que é produto da imaginação; fantasia, ilusão; quimera. Entende? Não é tudo que pode ser chamado de sonho. (Palavras são sempre mais perigosas do que a gente pode imaginar.) Eu até aceito que pessoas com mais de quarenta anos não sonhem mais. Entendo porque eu imagino que viver a vida inteira tendo que fazer 10¹³ coisas que você não gosta/quer faz com a pessoa fique sem a capacidade de sonhar. Eu entendo mesmo. Só que eu não aceito que você, com menos de trinta anos, já se dê ao luxo de querer tão pouco da vida. Porra, levanta daí e vai sonhar (direito).

(e não adianta procurá-la debaixo do carro novo)

Harvest; snacks and tissues.



I wish it was the 60’s and I had dreams. We all had dreams. Hard candy, cold water dreams. I wish all music was stereo and sounded as if we were inside it. Is it possible to not make typing mistakes? I wish there were more boat puzzles, where the ocean gets confused with the sky. The life of vanity and insanity. We could tell our children about the sunsets in California. We could tell our children about unwarm sunny days and the empty breeze of cloudy weather. We could tell our kids about rock and roll and forgiving. Tell my friends to come over to white sofas and right-angled furniture, in the happiness of our minds, the distorted confusion. Ten minutes of a song wouldn’t be enough. The playlist of life. I wish we could love like music loves us. I wish there was a perfect soundtrack and a perfect breath for every instant in life. We could sleep in blankets in bugless grass and drink sparkly mint drinks. We could be happy in the sand. We could be happy in the snow. We could be happy inside and out, candycould always be made of sugar and pink and brown and we could eat it all day long, counting the cars on the streets. I wish I could tell my love to be quiet and my heart to keep a pace. Does it ever? If there was beauty in every word and everyone was talented we could spend the nights counting the stars. Empty comfortable rooms, thick pillows, thick blankets. Thick white blankets. Who would come to my parties? Who would come along to seize the day? Finish the soda while staring at the silver meal. All of the time, all the sensations in my pores. We are all genetically made for desire. I bet nature never thought we could survive love.
As for me, guilty as charged, overwhelmed by the hour. And it feels damn good. playlist: like a hurricane, down by the river, i believe in you. all songs by neil young.

(Escrito em inglês sim, um presente para um amigo.)

Memória hospitalar azulada:




Lembro-me pouco do hospital, quase nada na verdade, lembro que fazia festas azuis com direito a docinhos e bolo de chocolate, que ia na lanchonete e separava pra mamãe todas as jujubas azuis de anís,(sempre odiei as de anís), tinha uma rampa espiralada, eu acho, grandes janelões de vidro, não sei porque sinto que a vista era linda, recordo vagamente uma espécie de terraço, o carpete era verde e confortável, um cheiro de casa, morei alí por anos, era minha casa, lembro dos exames, dos tampões e do s médicos, jamais esquecerei do medo, da paúra do bloco cirúrgico e da anestesia, o medo de morrer, de ver, e o de nunca mais ver nada, o gosto das lágrimas continua o mesmo, uma criança mimada chorava antes das cirurgias, ela ainda reside aqui, está presa, ou não, mamãe fez força todo o tempo pra que eu não sentisse nada, a idéia era passar por tudo como se o tudo nada fosse, mas é, o tudo mamãe é muito maior do que a senhora imagina, agora eu sinto, e o acumulo dos anos deixou o tudo cada vez pior, não você não me protegeria para sempre, e agora eu deixo a redoma de vidro que vocês decoraram tão bem para que eu vivesse confortavelmente inatingível, aqui está a minha escolha, quero ser superhumana, escolho sentir, atingir, e atingida ser, parece que foi ontem que perdi o balão azul (azul mamãe, a nossa cor preferida), posso sentir como naquele dia a cordinha escapando pelos dedos desta criança, (sim mamãe, ainda sou criança, pra compensar a infância que roubei de mim mesma) posso ver ele subindo em direção a clarabóia, é a mesma sensação de perda para sempre, ali o balão se tornou impossível, minha primeira grande perda, meu primeiro nunca mais, era azul, nossa cor preferida, tinha um nome, algo me diz que era inocência, mas minha memória anda me sabotando estes dias, e, lembro-me pouco do hospital...

sábado, 4 de outubro de 2008

Dia nada


Desde a hora em que acordei:
ninguém em casa

a única voz que escuto é a minha

estranho
a casa vazia, quase morta
sinal de nada

um por um

nossos planos foram desfeitos

não gosto de dias sem planos

parece um dia perdido

hoje não vivi

animalizei

-acordei

-comi

-dormi

arrumei meu quarto

meu ninho

a depressão não veio

nem ela

até ela

hoje me deixou só

todas as luzes amarelas acesas

para espantar qualquercoisa

avisam que hoje esta casa merecia uma festa

um encontro

boas risadas

boa música

mas o nada impera

o nada acontece
as esperanças são ralas.

Narciso e Narciso


Se Narciso se encontra com Narciso

e um deles finge
que ao outro admira

(para sentir-se admirado),

o outro

pela mesma razão finge também

e ambos acreditam na mentira.


Para Narciso

o olhar do outro, a voz

do outro, o corpo

é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.

E se o outro é
como ele

outro Narciso,

é espelho contra espelho:
o olhar que mira

reflete o que o admira

num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso

inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade

e assim

mais verdadeiro que a verdade.


Mas exige, o amor fingido,
ser sincero

o amor que como ele

é fingimento.


E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.

Assim amam-se agora
se odiando.

O espelho embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:

se torturam

se ferem

não se largam

que o inferno de Narciso

é ver que o admiravam de mentira.


(Ferreira Gullar
)


Desabafo:



"A intimidade é um caminho sem volta" todos sabem, a regra é clara e os avisos estão em toda parte, eu odeio a intimidade, porque ela sempre chega, inevitavelmente, traz junto a si a rotina, as brigas, as neuroses diárias, que nunca mudam, nunca acabam. Faz parte de qualquer relacionamento o ponto em que se sente confortável demais, para dizer, subentender, agir, esquecer, ou até fingir, a convivência traz intimidade e a intimidade arruína tudo. É quando você conhece alguém o bastante pra saber onde está, o que está fazendo, pensando, o que diria em determinada situação, você é intimo, e você sabe, sabe quando está mentindo, por mais que ainda te mintam, sabe quando as coisas não vão dar certo, por mais que jurem pra ti o contrário, que se fodam os espelhos, que se fodam os laços, nessa vida ninguém presta, são vários sacos de farinha todos em uma grande fila, (são farinhas diferentes mas cada uma tem seu saco, e cada saco está entupido até a borda de seus iguais) não, não confio em ninguém, e não duvido de mais nada.


(
Intimidade

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

[ José Saramago]
)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Gaiola de ouro:



Pássaro de asas cortadas já não canta, não canta nem voa, gosto amargo na mente enche a boca, ela quase não abre, a gaiola é grande, cheia de outros pássaros, nenhum é como aquele, aquele é maior, mais bonito, quando tinha asas cantava mais alto, os outros não gostavam, mandaram aparar-lhe as asas, agora vive amoado, preso, foi vencido pelo mundo, isso que dá ser único em gaiola cheia, tinham medo (ele pensava), sozinho, passava a maior parte do tempo em seu ninho artificial, lá guardava suas coisinhas, o pouco que lhe agradava, tudo que lhe fazia sentir parte, ainda que pequena, de algo maior, o que lhe aproximava dos outros, se agarrava aquilo com força, era visto, sempre de longe, como um louco (ser diferente gerava indiferença), viver alí não era pra ele, não era o bastante, ele sabia, toda sobre-vida era curta, queria fugir, sonhava. Preso, quem diria, por cantar... agora choraminga sua tristeza; o único meio de fugir da maldita gaiola de ouro.

O verdadeiro banquete:


Um pouco de vingança faz bem, e não há quem prove o contrário, nada como ver no inferno quem um dia te jogou lá, demasiado humano eu sei, porém essa é a realidade, "você vai morrer e não vai pro céu, é bom aprender, a vida é cruel", quantas das suas desgraças não foram desejadas por outros?, quanto sofrimento teu não foi culpa da praga alheia bem rogada?, duvida?, acho perda de tempo acreditar que é possível ser bom, carregar no peito um coração cem porcento puro, virgem, imaculado, não se negue suas maldades, não esconda seus pensamentos profanos, é disso que as pessoas precisam: subverter o mal, entender que nem todo mal é necessáriamente ruim e que a maioria deles é bastante necessária, justificável, deixe isso fluir dentro de você, amadureça a idéia dos desvios de caráter, eles fazem parte do caminho, não tenha medo da vingança, da vontade da vingança, muito menos da realização dela, a vingança é quase sempre merecida, um prato que se come frio, as vezes gelado, perca a timidez em devorá-lo: o melhor tempero é a fome.