terça-feira, 30 de setembro de 2008

Salva-vida:


É hora de morrer pro inimigo que vive em mim, um sem fim de desventuras acontece o tempo todo, estado de constante desgraça nesta humilde vida, já não me surpreende mais a dor ou o sofrimento, nem poderia, a vida é circular, tudo é ciclo, o maldito amor é supremo, não farei da minha vida uma guerra, tempos secos existem para que se valorize as cheias, não há nada que me prove o contrário, então aqui estou eu, valorizando o momento, que é meio seco/meio cheio, nada certo, mas é momento, tem seu valor, tem sua lição, aqui me dispo dos medos me agarrando a sorte, a serenidade das incertezas da minha breve porém consistente existência, aqui sempre resistirá a esperança, é a cortesia dos Deuses aos que sentem muito, aos que sonham demais, cortesia para os que pulam do penhasco acreditando que serão salvos antes de se esfacelarem no chão, durante muito tempo esperei ser salva, aqui estou eu abolindo o "pra sempre" para todo bem e mal, me declaro um parêntese sempre em aberto, reticente eternidade, a única certeza da minha existência é a vida, da morte só sei o descanso, o resto é mistério, aproveito o tempo que tenho, sigo me salvando cada vez mais.


(...)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um convite inusitado:


Hoje o teatro me chamou pra voltar, ele dsse: "volta pro palco", eu não pensei nem meia vez, sete anos depois darei vida nova a minha primeira personagem, aquilo que foi um parto, primeiro desafio, talvez por destino, encerrará o meu jejum de quase um ano longe das cochias, hoje terreno já tão conhecido, agora mais maduro, mais seguro, D.Alma está de volta, espero fazer jus a este espetáculo, o certo é que todo meu coração estará alí, como sempre esteve, hoje o bom filho a casa torna, tomo de volta o meu lugar, com a certeza de que jamais deveria ter saído de lá.

foi o melhor convite, o melhor presente, a melhor supresa possivel, meu mundo voltou a girar, e agora sim tem um novo sentido, viver pra arte, como sempre foi até aqui, me sentir completamente plural, como sempre fui.




(é isso e lá pelos meados de novembro, no teatro do dragão do mar, mais uma vez serei A avarenta, de Moliére adaptado por Charles Dickens e revisto por Tonico lacerda cruz, vá me ver, caro leitor.)


.

sábado, 27 de setembro de 2008

Sonho:



Numa floresta de macieiras ela o seguia, sua voz era como a canção do flautista e ela uma criança curiosa, macieiras, macieiras, vermelhas, azuis, roxas... maçãs, se sentia segura, atendia o chamado, trilhava com ele o caminho, pararam entre as duas últimas macieiras da floresta, ele a entregou uma maçã vermelha, um sorriso, a maçã foi guardada, como que para depois, estendeu a mão para ela, as palavras mais que mágicas estavam gravadas em seu antebraço: "Amittere non potest quis, quod suum non fuit", os dois sabiam, ali, as duvidas se esgotaram, qualquer dor desapareceu, era seguro, era certo, deram as mãos, avistaram o antigo castelo medieval de pedra, "é ali o castelo do rei" ele disse, levando-a pela mão cruzaram o foço, chegaram a frente da enorme porta, que se abriu sem o mínimo esforço, entraram juntos, e isso é tudo.


.
("Então que se foda amor, que se foda, se a palavra suja não rima. Que se foda amor, que se foda. Pecado é não viver a vida. Então esquece tudo e vem, que a vida é assim, e se a gente deixar de viver, não vai dar tempo de sorrir. Vamos pegar essa estrada, e sentir o vento cantando esta música, que conhecemos mais que nós mesmos." Dance of days- Interlúdio Para Um Bar de Beira de Estrada Por 33 Anos Fora do Mapa)
.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A constante inevitável:


De vez em quando o que é ruim nos domina, é simples, ele vem chegando devagar, e de pouquinho em pouquinho lhe toma por inteiro, quando se vê já é tarde, tudo escuro, sofrer inevitável, então precisa-se de férias, uma espécie de "licença da rotina", demanda tempo, coragem, fé, justamente aí vem a correria, a fraqueza, o ceticismo, parecemos ter apenas o oposto do que precisamos, vazios, a solidão nos encontra, sufocados, exaustos, o sentido desaparece, nos perdemos pra nós mesmos, e perceber a perda exige amor próprio, se recuperar exige força de vontade, quando a solução é quase invisível, como que por um milagre a luz chega bem mais lenta que as trevas, vai penetrando cada fresta de esperança, iluminando o caminho, nada nunca mais é igual depois de passar por esse ciclo que se repete constantemente, todos passam por ele, alguns ficam presos, outros correm fugindo, não adianta, cedo ou tarde ele te pega pelo pé e te ensina o valor da vida, da amizade, do amor, da família, e especialmente, ensina o seu valor, é ele que movimenta o universo, que torna as pessoas mais humanas, superação para cada nova etapa daquilo que nunca termina, o espiral da vida é infinito do tamanho das nossas possibilidades diante dele.


(amém!)

Porcos e diamantes:



Não, não é porque somos porcos que precisamos chafurdar na lama, "quando percebi que o mundo é sujo, tratei de me sujar também", bela desculpa mas... veja bem, não faz sentido, alguns porcos são limpos, mesmo que a maioria seja imunda, é certo que uma vez ou outra mesmo os mais higiénicos passam pelo chiqueiro e provam da lavagem, o importante é não ceder a maioria, uma vez chafurdando, sempre chafurdando, limpar um porco sujo é missão impossível, as chances dele voltar ao chiqueiro são muito grandes, mais que isso, se você estiver limpo as chances dele (no mínimo) tentar lhe sujar são enormes, não vale a pena.
-
-Para os que resistem aos encantos da sujeira o prémio é a margem, são seres raros, superiores, exemplares quase únicos num meio enlameado.
-Para os que insistem o castigo é a convivência, dependência, alienação de viver ser e sentir igual a todos os outros porcos imundos, que se lambuzam diariamente na lama da sociedade, saboreando de bom grado a lavagem que lhes é oferecida, à eterna procura, ganho e perda de diamantes.
-

(snatch)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

(Desgraçada)mente:


Uma multidão de pernas encolhidas e cabeças baixas, suicidas em potencial, as pessoas andam desistindo fácil, ou não, é difícil mesmo sobre(viver) a sociedade que criamos, cruelmente, a cada dia mais alguém dá início a sua depressão, "alguéns" na verdade, não tarda teremos um novo mal do século mil vezes pior que o anterior completamente instalado no ser humano até a última fibra do seu corpo desconjuntado, um legião de infelizes, deprimidos, angustiados, anti-depressivos... ah os tormentos da vida moderna, é o fim, as coisas que possuímos acabaram possuindo a gente (você estava certo Tyler), o amor não faz mais sentido, Deus e a fé são completamente desacreditados pela massa cética que tomou conta, viver perdeu a graça, não é mais bonito, nem divertido, resultado de um amadurecimento pobre em inteligência emocional que gera adolescentes caóticos e adultos vazios, seres completamente instáveis, não há segurança, o sentido da existência foi deturpado, e ái de quem ainda ousa sentir e ser nos tempos do agir e ter, o fato é que aqui o futuro parece péssimo e o presente não está perdendo, o que se perdeu mesmo foi a fé, os sonhos, a (boa) vontade... Vejo uma geração de artistas sendo gerada, todos filhos da desgraçada fatalidade que acompanha estas décadas, não vejo nada de bom sendo deixado para os próximos, só uma receita do que não se deve fazer, para que eles tentem ser um pouco menos infelizes.


(A maior expressão de angústia, pode ser a depressão, tudo que você nem sente, indefinível, mas não tente se matar, pelo menos essa noite não.)

Minha aventura:


As palavras aqui tem se repetido bastante: inferno, sofrimento, dor, depressão, família, ódio, diário, cotidiano, falta, amigos, aula, decepção, não, perda, perdida, culpa, "não sei", "não quero"... Onde foram parar as possibilidades?, o positivo parece morto e enterrado, e o meu vocabulário invertido, antes cantava uma felicidade sem precedentes, não que eu seja infeliz, mas estou infeliz, espero ser por pouco tempo, o que me falta mesmo é a aceitação dos outros no sentido de acolherem o meu sentimento, remédios não tem nada com isso, acordar é um momento trágico, vontade de dormir pra sempre sem morrer, simplesmente passar por isso em paz, num sono profundo, longe de quem só piora o que já está difícil, esse é o meu momento, a minha dor, eu tenho direito de vive-lo, preciso passar por ele, sofrer ensina, é ciclo seco, ninguém tem culpa, demanda dias, meses, não vou mais esconder, já disse, não vou renunciar a mim, nenhuma parte, nenhum pedaço, deste ser errante, vibrante, sujo, quente, hoje triste, melancólico, sensível, e daí?, sou bem grandinha para lidar com a desgraça, já aguentei muito, era bem pior quando escondia, você nunca me viu trancada gritando com a boca tampada no banheiro simplesmente porque doía e jamais alguém poderia me imaginar assim, agora entendo porque, porque não suportam sofrimento, querem pessoas que vivem em comerciais de margarina,(sorrindo sempre despudoradamente, aquilo é quase um crime), gente deprimida, arrasada, deprime os outros, atrapalha, o homem pode suportar a própria dor mas não a do vizinho, me poupe, me economize, desde quando o ser humano é tão autruista assim? Minha dor, MINHA, não sua, finalmente ela encontrou um caminho para sair daqui de dentro, de um jeito ou de outro ela vai sair, novamente aqui estou: fraca, suja, doída, desmascarada, aos pedaços... e desde que me deixem passar em paz por isso, em breve me sentirei muito bem, obrigada.



(se ao menos no escuro eu conseguisse apagar, dormir sem sonhar, apenas dormir, sem sonhar.)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Auto-poética:




O pouco que estes olhos enxergam
Não gostam

Me perguntam se queria mais

Não quero

As pessoas não me entendem

Não sou
Todos seguem um caminho

Não vou.

(...)

Manoela não tem par

Falta um, dois, três

Não há vivalma que a complete

Ela não tem espelho
Não tem encontro

Não tem medida

Manoela não tem freios

Ela não sabe ser de outro jeito

Ela se perde pra se encontrar

Vive de procurar
motivo, maneira, razão...

Manoela não tem par

E é tudo culpa dela

Ela, Manoela.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Manoela foi pro mar:


Há algum tempo atrás eu fui pro mar para me encontrar, ou para fugir não sei, hoje eu volto lá, hoje eu vou pro mar para me perder, cansei, a dor virou estado de graça, meu dono se chama ignorância, hoje sou ignorante, não sei de nada, aqui não há futuro, não se faz planos, mal se sonha, o presente é turvo, encoberto por uma névoa mostra que estes dias são escuros e invisíveis, não sei quando foi que comecei a falar a língua dos anjos, mas ninguém me entende, (ladainha de criança mimada) é pode ser que seja, mas quero ir embora, com a maré, e nunca mais voltar, não é sair temporariamente e depois reaparecer como se nada tivesse acontecido, quero ir mesmo dessa vez, recomeçar tudo, até que em um novo lugar chegue aonde estou hoje, e fuja novamente, talvez essa seja a minha sina, meu destino, não cabe Manoela mais aqui, compreensão não me sacia mais, e ela vem por todos os lados, meu teatro diário perdeu a plateia, quero silêncio, no mar agora me perco, vou pra onde ele me levar mesmo que isso seja para o fundo, mas um amigo já dizia que nesse fundo nunca se chega, (então esse medo eu não tenho), que a maré guie meus dias, até perder a conta do calendário e tudo parecer paraíso, não é fuga, é uma despedida, mesmo que seja mental, aqui eu desisto, parei, não posso mais, abdico da minha realidade tragicomica, quero céu de brigadeiro, sol, vou pro mar da minha mente onde dias claros darão sentido ao meu cotidiano, e minha vida será doce, e breve,e (...) não, na verdade, eu não tenho a mínima idéia do que fazer, pra onde ir, ou porque.


(e ela pensou por muitas vezes, se usava a sua Mauser ou o gás do seu fogão, mas seu último direito, ela viu que era um erro, Manoela foi pro mar.)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Dance como se ninguém te visse:


Todos os dias se dança o ballet da utopia, são piruetas de emoção em busca do equilíbrio, a cada passo se ganha mais vida, quando dança tudo faz sentido, apesar da sapatilha furada, da meia rasgada, dos calos nos pés, das dores no corpo, ao dançar se vence o mundo, ali se completa, cada gota de suor vale a pena pois neste ballet todo bailarino acredita em si, saltos levam ao paraíso, aplausos dizem tudo sem uma palavra, o sorriso é onipresente, no ballet da utopia não há dor, nem medo, só esperança e serenidade, horas de ensaio levam a exaustão, horas de ensaio levam a perfeição, o espetáculo itinerante percorre a existência dos corajosos com apresentações diárias e eternas, que duram vidas inteiras para aqueles que escolhem o caminho do sonho,também pros que querem romper com a ordem, mudar o fluxo dos rios nos quais navegam as almas, o espetáculo é infinito, bailarinos incansáveis nunca param, o ballet da utopia jamais desiste.


(...)

Causa mortis:


Carrego no peito a agustia de uma geração vazia, sem ritmo e sem rumo, desvairada, entupida de duvidas até o talo,não temos objetivo realmente valioso, nos falta motivo, razão, nos falta amanhã, geração suicida, sem esperança, nem fé, trago comigo a dor do dia-a-dia, o cotidiano me massacra a cada terça-feira modorrenta, medo do futuro, geração perdida, sem destino, geração prozac, sem porque ou pra que, acho que o que nos define mesmo é o nada, é que quando se tem tudo pode se perder tudo, as opções foram tantas que acabamos sem opção, overdose geral de informação, deu pani no sistema falho que nos pariu, filhos da desgraça ou da falta dela, muitos sonhos, poucas realizações, geração vendida, consumista, que só sabe vender e consumir, geração de mentiras sinceras, onde mais vale um na mão que dois voando, o normal aqui é ser triste, regular aqui é estar doente, geração sem par, nosso carater foi comprado por um preço tão baixo quanto nossos ideais que nunca existiram, e haja falsos intelectuais devoradores de orelha de livro pra falar e escrever besteira, geração de artistas falídos, porque a dor agora faz parte da realidade então todo mundo é sensível, e sentir gera arte, então todo mundo é artista, aí a arte não vale nada, geração parnasiana do maldito culto a forma, você também faz p(arte), não se isente, não se iluda, respire a cada momento o ar imundo, admire o caos, as mazelas, e tudo que o homem inventou pra acabar aqui, acabado.

(A cada dia essa geração morre e mata um pouco mais.)

sábado, 20 de setembro de 2008

Últimos dias:


Discurso inválido, falido, meus ouvidos cansaram de escutar a mesma estória tantas vezes em tão pouco tempo, ladainha sem fim, infeliz, o inferno é a repetição e definitivamente é nele que tenho vivido, palavra nenhuma faz sentido, nada faz, o silêncio é consolo, fuga, e placebo, é o que resta de valioso, o único que parece ter bom senso, o único que não incomoda. De resto, a vida que me desculpe, mas já me decepcionei o suficiente com a raça humana para me importar com o que pensam ou não sobre o que sobra da minha vida, a alma vadia que habita este corpo é mais forte do que eu, no fim como sempre aqui está ele, magnânimo, que a tudo resiste, que traz paz e sentido, meu amante fiel, a melhor e mais rara parte de mim, verdade absoluta, certeza universal, aqui está... o silêncio.


(Ando escrevendo...tudo uma merda, insisto porque essa é minha sina, nada vale a pena ser dito)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Correio feminíno:

Nunca levei jeito pra vítima, as coisas não funcionam assim pra mim, pra mim o fator culpa não existe, minto, existe, mas a culpa é de todo mundo, ninguém é inocente, por mais que as pessoas tentem, não são, eu não acredito na bondade nem na pureza, não mais, acho sinceramente que prefiro assim, nunca tive vergonha, sempre preferi os difíceis, o ruim, o incorreto, é Clarice o que obviamente não presta sempre nos interessou muito, hoje me disseram que eu pareço com você quando falo, quando escrevo, "graças a Deus" pensei, se pareço contigo estou no caminho certo, eu disse "letras" Clarice, eu disse, tracei meu rumo, fiz meu plano, a palavra saiu imediata como um tiro e a epifanía veio, fez se a luz aqui na minha sombreada existência, eu disse "letras" Clarice e fez todo o sentido, claro que tenho medo, um infinito de perguntas, sem respostas, a eterna busca, você me ensinou Clarice que a tristeza não significa infelicidade, acho que é culpa sua eu entender tanto das coisas, culpa sua esse meu coração do tamanho do mundo, mas a culpa não existe, ou melhor, existe, e ela é nossa Clarice, carregar a vida nas costas, a própria, a dos outros, a esperança, a angustia, de ser várias, de ser única, foi por isso que te entreguei minha alma, porque você entende Clarice, sei que você escutou quando eu disse, agora faz todo o sentido, Clarice.

(“Eu sou à esquerda de quem entra. E estremece em mim o mundo. (…) Sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Sou um coração batendo no mundo.” C.L)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dezessete:


"Manu, você sabe que está doente, não sabe?"
"-sei"
"e como se chama a doença?"
"-depressão, cronica."
"inclusive, tecnicamente, você deveria estar sendo medicada, aliás essa é uma possibilidade que iremos estudar agora."
São dezessete anos de uma mentira muito bem contada, eu realmente sou uma boa atriz, muito convincente, enganei a quase todos, dezessete anos de isolamento, dezessete anos de solidão (cronica), eu já sabia, ela sabia que eu sabia, eu já esperava, o que aconteceu foi a gota d´agua num copo que já transbordava há tempos, meu casulo está rachando, e dói em cada parte do meu corpo, em cada pedaço da minha alma, são dezessete anos de dor, doendo de uma só vez, chorei na terapia, chorei no colégio, choro em casa, na rua, aonde for, não tenho pra onde ir, não sei o que fazer, hoje eu morri e tudo que enxergo pela frente é mais morte, vai demorar pra que eu renascer, eu sei, mas serei alguém melhor, a dor ensina, não quero tomar remédio, sei que minha intelectualidade, meu complexo de superioridade são frutos da minha doença, são minhas armas, dezessete anos de defesa contra tudo e todos, vou viver minha dor, é uma crise, vou viver minha crise, só o que me falta agora é tomar felicidade em pílula, está doendo, não vou esconder, não vou fazer cara bonita, não vou sorrir, não está tudo bem, acho que nunca esteve, se eu chorar na sua frente não se assuste, me abrace, não me pergunte o que tenho, eu estou no chão, sem a mínima idéia de quando ou como irei me levantar, aí está, dezessete anos depois: realidade.


(E sim, eu preciso de toda a ajuda que puderem me dar.)

Mãe e pai:




Desculpem por hoje, eu só queria que vocês entendessem, este é de longe o pior ano da minha vida, o tratamento está me ajudando muito, sem ele com certeza eu nem me levantaria da cama, mas não é vagabundagem, nem frescura nem nada que vocês pensam, de fora daí de onde vocês vêem tudo parece mil vezes mais simples do que realmente é aqui dentro, eu só quero que esses dois meses passem, eu só quero que esse inferno acabe, e não é culpa de ninguém, é natural, não consigo fazer tudo ao mesmo tempo, preciso dos meus amigos por perto, sem eles eu não sou nada, amo o Santa Cecília, odeio o terceiro ano, odeio a minha turma, odeio ter que levantar todo dia as 6 e pouca da manhã pra ouvir professor dizendo que faltam tantas semanas pra merda dessa prova que reduz a gente a número, e pra conviver com um monte de gente babaca que não me conhece, e não se respeita, odeio, eu por mim não saia mais de casa, mas não posso fazer isso, não posso me isolar, assim que esse inferno passar as coisas vão voltar ao normal, ano que vem irei pra aula com um sorriso no rosto, vou trabalhar, ir pra academia, fazer francês o diabo a mil, mas não posso mais, não vou fingir que está tudo bem, não está, estou em tratamento, tenho crises tenho recaídas e os dias pesam como nunca, preciso da ajuda de vocês e da compreensão, que sempre me deram, agora ainda mais, sinto muito por decepcioná-los eu também não esperava nada disso, mas é assim que as coisas são.
Mais dois meses e estarei livre, me ajudem.


Com carinho, da sua filha que os ama muito:


Manoela Elias.

Fortaleza 15 de Agosto de 2008.

(sim, a carta foi enviada, não, eles não entenderam nada.)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Coração vagabundo:


Você me fodeu, bonito, é verdade, arrancou um coração que batia incansável, sempre disposto a recomeçar, arrancou e não me devolveu, você me transformou em tudo que sempre odiei: uma pessoa amarga, que sorri amarelo, não acredita no amor, não tem medo da morte, não confia em ninguém, e duvida de Deus. Como pode?, eu era doce, uma princesa, boneca de vidro na tua estante imunda, sempre esperando, não foi isso que você pediu? (Tempo). É, você criou um monstro, a gente nunca se conheceu de verdade, você sempre foi um tiro no escuro, eu um assassinato a queima roupa, nunca ia dar certo, só que esqueceste de me avisar, e eu esperei, sete anos, indo e vindo, rodando em círculos, abrindo e fechando a mesma chaga, nunca senti tanto amor e ódio, é verdade que eu não sei o que fazer, que mais uma vez estou perdida e a culpa é toda sua, mas não me importo, quero mais é que se foda, quero mais é que você se foda, chega de declarações de amor, de esperança, isso aqui é uma carta de ódio, um atestado de como você me fez e ainda me faz infeliz, e do quanto eu te quero mal, vingança não, justiça, está tudo bem claro, você merece cada dor que passou, merece muito mais na verdade e a vida vai se encarregar de te dar cada uma delas em dobro, estavam todos certos: meus pais, meus amigos, seus amigos, "você é doente, um bom filho da puta inútil, dependente, que não sabe o que quer, e não me merece, inseguro, canalha e covarde" saiba que dinheiro (ou a falta dele) nunca foi motivo, nem estética. falta de amor sim, desvio de carater também, procurei mil razões pra justificar isso tudo, todos esses anos, essa lenga-lenga maldita, com o meu coração de pedra, encontrei apenas uma: você nunca me amou de verdade, ao menos não o bastante,você nunca quis e ponto. Dói, eu te amei, eu quis, eu admito, dói mas passa, a mesma força que me prendeu a ti hoje quer se libertar, é só uma questão de tempo, enquanto ao meu coração?, fique com ele de lembrança, a melhor que você já conseguiu na sua vida, a única coisa realmente boa, ou então, faça o que quiser, jogue fora, eu não preciso mais dele.


("this is fact not fiction, for the first time in years")

Sinal Vermelho:


Acho que quando nasci, esqueceram de por no cérebro os freios, ou devo ter perdido a aula da "auto-escola da vida" onde a lição era "saber parar", não sei, não sei a hora de parar, na verdade não sei nem a de começar, quanto mais a de parar, não sei me despedir, nem terminar, nem acabar, eu sei ir embora, fugir, jogar as coisas pro alto, desistir e abandonar é comigo mesmo, esse dom me foi dado, essa aula eu estava presente, cheguei aqui, fiz as provas, tirei dez. Não saber parar me tirou o medo da morte, e até dos mortos, (-mas não dos vivos), do tempo, envelhecer é inevitável, amores são sempre possíveis, as rédeas das nossas vidas não nos pertencem, os freios sim, mas eu vim com defeito de fábrica, não tenho freios, acabo provocando acidentes horríveis e me arrebentando toda, os machucados demoram pra sarar, alguns nunca saram, mas todos deixam marcas, e o que fazer com elas? -não sei. Comecei a escrever querendo dizer uma coisa, já estou dizendo outra e pensando que eventualmente terei que parar, porque este texto tem que chegar ao fim, mas eu não sei parar, e um final ruim anula qualquer bom começo ou meio, porque os finais sempre resistem, nunca se perdem. Talvez por não entender muito deles eu lhes dê uma enorme importância, super valorizo os finais, e observando as pessoas constatei que não há viva alma que saiba arquitetar um decente, parei com isso, vou fazer minha parte, recuperar a matéria perdida e aprender a terminar, melhor que apodrecer aos poucos com tanto pedaço velho de vida, mal acabado, espalhado por dentro de mim.


(-Me dá uma ajudinha tio?
-...

Indiferença, cada um dá o que tem.)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Meu eu mais fluido:



Angústia que não cabe, "um iceberg numa piscina de plástico", ela escutou uma vez e entendeu muito bem o que isso queria dizer, era exatamente assim que se sentia, era demais para o mundo, na verdade o mundo que era de menos pra ela, e isso incomodava, como se fosse um cachorro enorme, peludo e cada desagrado uma pulga, carregava nas costas o peso da diferença, exercício diário que fortaleceu muito bem seu ego, indiferente, escolheu o caminho mais difícil, passando por ele juntou todas as pedras que pode, com algum sofrimento escalou a montanha mais alta, chegou no topo,lá, com a ajuda das pedras hoje constroi seu castelo, ali no pico mais alto da montanha mais alta, longe de todos, de quase tudo, confortavelmente escondida, semi-isolada, conta apenas com a rara visita de uns poucos e rápidos amigos, quase não sai, gosta do lugar, gosta mais ainda de ser dona dele, da janela ela vigia as vidas dos que lhe importam e crucifica os que mesmo de longe conseguem lhe importunar, é sua alma de cachorro sacudindo as pulgas.


(Máscara para mostrar, não para esconder.)


Mano

Isso aqui é uma roleta-russa, Cleck, cleck, cleck. A bala ainda não entrou na minha cabeça. Todo dia acho que vou morrer. Todo dia acho que ainda não nasci. Me deixaram te escrever dinovo. Não sei se vão colocar no correio, Tudo doido. Todos. Não tem um que escape.
Hoje foi massa com almôndega. Ontem adivinha. Massa com almôndega. E anteontem, massa com coxinha de galinha. Amanhã, massa com coxinha, âs vezes dois dias cozinha dois dias almôndega, eles nem revezam. Eu fico olhando pra cara do bando no refeitório. Ninguém sabe porque está comendo. Eles mandam a gente come. Não faz a menos diferença. A mãe cozinhava bem? Não lembro da mãe. Que rosto. Que cara tinha. O nome. A gente teve uma? Uma mulher veio me visitar outro dia. Faz um mês. Ou um ano. Grande porcaria. Não sei quem era. Se irmã, namorada, ex-professora. Tinha um bundão. Não tinha cara de mãe. Mãe é sempre mais velha que a gente. Essa era mais ou menos. Era sua mulher? Você casou? Quando sair daqui vou ter uma mulher. Vou ter duas. Vou comprar umas quatro.
Sonhei que tinha um carro. Eu lembro como é dirigir. Primeira, segunda, terceira. A gente pegou o carro do velho sem licença, quantos anos eu tinha? Você era um cagão. Não aconteceu nada. Na´da. Mas você chorava feito uma menina. Eu tinha um pouco de ódio de você. Nunca gostei de medo. Medo não existe. Medo é uma desculpa. Cleck, cleck. Roleta-russa. Não faz diferença. Morrer. Viver. Não faz nenhuma.
Me escondo no quarto pra não saber se é dia ou noite. Assim passa mais rápido. Mas não me respeita. Me puxam pela gola do uniforme e me arrastam pro pátio, vem pegar sol. Pegar sol, que idéia. Ninguém alcança o sol. Rotina: vou, volto, sento, levanto, sozinho, cercado de loucos. Pegar a chuva, dá. Mas aí eles não deixam. Quero pegar a chuva com a mão, eles não deixam. Vai pegar resfriado! Resfriado, que não dá pra pegar, eles dizem que se pega. Me tira daqui vai.
Tem um cara me olhando. O vigia. Pra ver se eu não vou fazer nada de errado com esta caneta. Ele deve estar pensando em sacanagem. Mas não. Eu poderia furar meus olhos: pum pum, uma estocada em cada um, só pra ver esse babaca mijar nas calças. Tudo fede aqui dentro.
Eu não preciso de olhos. Ele precisa. Tenho um plano. Me aproximar fingindo que quero ajuda com uma palavra: mau se escreve com a letra U ou com L no fim? E pum, pum, duas estocadas nos olhos dele. Eu iria preso? Do hospício pro presídio, muda nada.
Você me jogou aqui dentro. Atrapalho o andamento, causo desordem, vejo coisas. A cabeça veio com defeito. Não bate.
Bate, cabeça, bate.
Dei um susto no homenzinho. Bati minha cabeça na parede. Uma vez só. Ele arregalou os olhos. Arregalou bem arregalado. Ficaria mais facíl assim: pum, pum idiota. Ameaçou tirar a carta de mim, fingi chorar, ele devolveu. Eles adoram quando a gente se faz de retardado. Eu sei que eles não vão entregar pra você. Eles entregaram as outras? Você não responde. Eu nem sei se você ainda existe.
Queria saber há quanto tempo estou mofando aqui. Não tenho espelho. Se quebrarem. Viram cacos. Arma. Me enxergo no reflexo dos vidros das janelas e me acho igual. Igualzinho. Igual a quem, não sei. A Rosana me achava bonito. A Rosana. Você conheceu. Você casou com ela? Foi a Rosana que esteve aqui? Me olhou com uma cara de pena. Tão feia.
Se ainda fosse um hospício decente. Anárquico. Mas é como qualquer hospital, os doentes arrastando os pés pelo assoalho frio. O banho é frio. O eletrochoque é quente. O olhar de uns é frio, de outros é quente. As mãos gelam â noite. O silêncio enlouquece. O silêncio. Por isso uns gritam. Pra não enlouquecer mais ainda. Eu não grito. Eu converso com as traças. Com as baratas. Com os ratos.
Limonada um dia, água no outro. Limonada um dia, água no outro. Eu prefiro água, que é um troço mais sincero. E consigo enxergar o fundo do copo. Nunca é limpo, Nada é limpo. Eu também não. O banho é frio.
Você casou com ela?
Não sei se fui eu que vi vocês primeiro, ou vocês que me viram. Aquilo arranhou meus olhos. Me açoitou. Eu queria sair de mim, não conseguia. Sofrer alucina. Doía feito carne arrancada do corpo. Nunca mais vou sentir coisa igual. Amor é dor. Amor é dor. Amor é dor. E você foi um filho-da-puta.
Gostar de alguém que vai te deixar. Todo cretino faz isso. Vou ter duas. Vou ter cinquenta. Vou deixar uma por dia. Me tira daqui.Não vou procurar vocês. Não sei em que sarjeta, em que buraco foram se esconder de mim. Porque não veio com ela? Vem, vem ver meus dedos cheios de sangue. Sangue coagulado, preto, duro. Eu devoro o entorno das unhas. Arranco a pele. Arde. É a única fome que tenho.
Pum, pum. Em cada um, arregalado. Com a ponta da caneta, chega mais perto, coloca os olhos bem perto deste papel.
Brincadeirinha. Daqui eu não posso nada. Daqui eu não posso nada.


Teu irmão

Vitor.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Meu mar de rosas:


As pessoas não estão preparadas pra me ouvir, nem pra me conhecer, me merecer, não estão prontas pra me entender, me ter, nem me calar, muito menos me falar, ninguém, absolutamente ninguém, sabe me amar, o problema é que eu sou exigente comigo, isso me torna exigente com os outros, passei anos da vida arrumando a bagunça alheia ignorando minhas exigências, esperando demais das pessoas quando na verdade acreditava esperar de menos, se alguém me perguntava "está tudo bem?' a resposta automática seria "tudo, e você?" assim, sem nem pensar se estava mesmo bem ou não, aí depois eu reclamo que não me conhecem, não me entendem, digo que a vida é difícil, que o mundo é injusto, mas, espere aí, eu nem sequer dei chance para as pessoas me conhecerem de fato, é como um desafio, quero sempre que me vençam, que superem as aparências e me enxerguem por trás da pose de intelectual, das respostas na ponta da língua, dos olhos coloridos, dos cabelos sempre mudando, a verdade é que espero sim, espero muito de você, e dele, e dela, e de todos, vivo a procura deste ser que irá me desarmar, me desvendar, aquele que não se contentará com um mero "tudo bem", não, este alcançará as minhas verdades, não será acomodado a própria zona de conforto, é algo mais, melhor, lerá nas minhas entrelinhas o pequeno romance de minha vida, logo escreverá novos bons capítulos para ele... por enquanto, aqui vai uma dica (que na verdade é um pedido desesperado): tente enxergar o que os outros só conseguem ver, não se deixe enganar pelo meu mar de rosas, entre nele, admire as rosas, seu perfume, suas cores, tamanhos, colha algumas, e então por fim, sinta os espinhos, por mim.



(Tire seu sorriso do caminho que quero passar com a minha dor, hoje pra você eu sou espinho,e espinho não machuca a flor.)

I´m not over yet:


Junta meus pedaços vai, cata meus cacos, eu estou por toda parte, me dividi em tantas , durante tanto tempo, sabe lá Deus como estou aqui inteira, inteira por fora somente, tem um pouco de mim em cada lado, em cada canto, no passado, nas pessoas, em cada música e letra, eu me abandonei em cada sonho sonhado só, e um pouco pra cada um sonhado junto, me perdi pras noites, pras dores, pros amigos, pros amores, pro tempo, acho que a falta que sinto é isso, fui deixando por aí, agora me faz falta, não sei exatamente o que, mas faz, é como não ter uma perna e andar mesmo assim, graças as dores fantasmas que você sente, de tão reais que elas são, não me arrependo, não choramingo pelos cantos, não por isso, sou eu quem faço meus dias, eu cheguei até aqui, pra frente é que se anda, talvez nunca encontre a perna que me falta mas as dores sempre estarão aqui para que eu não desista dela, as dores me lembram que é preciso continuar andando, eu sou boa de sofrimento, é meu lado sádico agindo, eu aguento, tem mais?, eu aguento, mais?, aguento também, a final: já se abriu a caixa de Pandóra (e todos os males estão no mundo), só nos resta a esperança.


(Esperança: acto de esperar; tendência do espírito para considerar como provável a realização do que se deseja; a segunda das virtudes teologais; o que se espera; expectativa; suposição; probabilidade)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sabe(dor)ia:


Acontece que sei exatamente quando algo não está a altura da gente, eu até quis voltar, pensei em ligar chorando, dizendo que não estava contente, mas nesta vida tudo passa, nesse mundo de tanta beleza e som, agora o que me toma é aquela vontade de rir o tempo todo, eu sou meus plenos poderes, meus grandes momentos, meus sentimentos mais serenos, sou as mais singulares, mudanças de pele, sou meu contraveneno, minhas rosas, meus refrescos, minhas sobremesas, vivo a felicidade que vive na beleza, e o que há de independente o tempo todo, um tipo bem-sucedido, sou um "antítodo-antídoto", acontece que sei exatamente quando alguma coisa no ar independe da gente, e sobretudo sei que viver não tem volta.


(Acredite na minha brincadeira de dizer coisas sérias.)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Vontade felina:


Estava aqui pensando, inocentemente como sempre, que isso de ser uma pessoa está se tornando muito complicado, queria ser um gato, sempre gostei deles, manhosos, encantadores, confiantes, queria ser uma gata branca: daquelas bem peludas que tem uma cara snobe, isso de ser humano é muito chato, ter que tomar decisões, fazer escolhas, ganhar dinheiro, atravessar crises existências, desilusões amorosas, questões mais do que metafísicas, já perdeu a graça, queria mesmo ser animal, instinto por inteiro. Podia ser também gata de rua: realmente livre, despudorada e sem medo, ou quem sabe o gato de Alice? enlouquecendo meros mortais ao meu bél prazer, poderia ser também um gatinho negro de uma aprendiz de feiticeira e acompanhar sua vida mágica, e como esquecer do Garfield, meu alter-ego mais verdadeiro, aquilo sim que é gato, viver é bem simples: "comer da sono, e dormir da fome", a verdade é que apesar da minha tara por complicação e do meu talento para atrair tal fenómeno ando precisando de coisas simples, melhor agora é aposentar as velhas roupas coloridas difíceis de combinar com a realidade monocromática desses dias, vou vivendo, vou indo...
Então até a próxima, te vejo logo ali, na outra vida, quando formos gatos!

(e muito, muito mais felizes)

domingo, 7 de setembro de 2008

É hora de fingir:


A sensação que me domina é a de que sou um rascunho, me sinto inexperientemente inacabada ainda no inicio da vida, quero fazer tudo: música, livros, filmes, peças, ganhar algum dinheiro, viver o presente, esquecer o passado, melhorar o futuro, quero me mudar pra Paris, morar no Hawaii, voltar pra Londres de vez em quando, tomar uns tecos, gargalhar muito, e ignorar meus devaneios líricos, enlouquecedores, quero esquecer dos outros e correr por aí, sempre apressadíssima, Sim essa é a minha decisão de viver rápido e morrer cedo, já tive a visão de como as coisas são por aqui quando você se importa, quando você sente muito, agora terei um pouco de diversão, sim é esmagador eu sei, mas o que posso fazer? Arranjar um emprego medíocre num escritório onde passaria o resto da vida acordando cedo para ir trabalhar? -nada disso, vivo numa geração destinada a fingir mas não faço parte dela, sinto saudades da infância, dos parques, da casa dos amigos, sentirei saudade do conforto da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos, da minha casa, do cachorro que nunca tive, de cada aborrecimento, da liberdade, do peso do mundo, e até o tempo gasto sozinha me fará falta, mas não cederei a minha geração, não há nada que possa fazer, o amor deve ser esquecido, a vida sempre pode recomeçar de uma nova maneira, mil vezes melhor que a anterior, e eu acredito em reencarnação, então seguirei em frente: lavando toda a sujeira desta vida imunda que víví até agora, deixe que os outros finjam, eu não, eu fujo.

(Escute MGMT, assista skins, e viva, vá entender o que digo.)