terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dezessete:


"Manu, você sabe que está doente, não sabe?"
"-sei"
"e como se chama a doença?"
"-depressão, cronica."
"inclusive, tecnicamente, você deveria estar sendo medicada, aliás essa é uma possibilidade que iremos estudar agora."
São dezessete anos de uma mentira muito bem contada, eu realmente sou uma boa atriz, muito convincente, enganei a quase todos, dezessete anos de isolamento, dezessete anos de solidão (cronica), eu já sabia, ela sabia que eu sabia, eu já esperava, o que aconteceu foi a gota d´agua num copo que já transbordava há tempos, meu casulo está rachando, e dói em cada parte do meu corpo, em cada pedaço da minha alma, são dezessete anos de dor, doendo de uma só vez, chorei na terapia, chorei no colégio, choro em casa, na rua, aonde for, não tenho pra onde ir, não sei o que fazer, hoje eu morri e tudo que enxergo pela frente é mais morte, vai demorar pra que eu renascer, eu sei, mas serei alguém melhor, a dor ensina, não quero tomar remédio, sei que minha intelectualidade, meu complexo de superioridade são frutos da minha doença, são minhas armas, dezessete anos de defesa contra tudo e todos, vou viver minha dor, é uma crise, vou viver minha crise, só o que me falta agora é tomar felicidade em pílula, está doendo, não vou esconder, não vou fazer cara bonita, não vou sorrir, não está tudo bem, acho que nunca esteve, se eu chorar na sua frente não se assuste, me abrace, não me pergunte o que tenho, eu estou no chão, sem a mínima idéia de quando ou como irei me levantar, aí está, dezessete anos depois: realidade.


(E sim, eu preciso de toda a ajuda que puderem me dar.)

Um comentário:

Medina disse...

terá ainda o meu colo, além disso tudo.