quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Gaiola de ouro:



Pássaro de asas cortadas já não canta, não canta nem voa, gosto amargo na mente enche a boca, ela quase não abre, a gaiola é grande, cheia de outros pássaros, nenhum é como aquele, aquele é maior, mais bonito, quando tinha asas cantava mais alto, os outros não gostavam, mandaram aparar-lhe as asas, agora vive amoado, preso, foi vencido pelo mundo, isso que dá ser único em gaiola cheia, tinham medo (ele pensava), sozinho, passava a maior parte do tempo em seu ninho artificial, lá guardava suas coisinhas, o pouco que lhe agradava, tudo que lhe fazia sentir parte, ainda que pequena, de algo maior, o que lhe aproximava dos outros, se agarrava aquilo com força, era visto, sempre de longe, como um louco (ser diferente gerava indiferença), viver alí não era pra ele, não era o bastante, ele sabia, toda sobre-vida era curta, queria fugir, sonhava. Preso, quem diria, por cantar... agora choraminga sua tristeza; o único meio de fugir da maldita gaiola de ouro.

Nenhum comentário: