quinta-feira, 17 de maio de 2012

Como (Des)entender um homem;


Para se entender um homem é preciso ter raiva. É preciso ter descontrole e alguma fúria no olhar ao ser questionado sobre sua habilidade no volante. É preciso respirar bem fundo e ser irônico quando perguntado se está perdido. É preciso entender que nós só fazemos isso para não admitir que não temos o controle da situação, principalmente se o banco do carona for ocupado por uma mulher que queremos impressionar. É fingir não parecer fraco por fora e entender a insegurança que bate por dentro. É sentir como se tivesse super poderes ao fazer uma baliza e dizer que chegamos a algum lugar. É deixar toda essa força de lado para ser carinhoso ao beijar o rosto de uma mulher. E deixar todo esse carisma de lado ao sair do carro e esquecer-se de abrir a porta para ela.
Para desentender um homem é preciso entender um menino antes. Entender que os brinquedos continuam os mesmos e só mudaram de tamanho. É ver a nossa capacidade paradoxal de esquecer datas importantes e lembrar escalações inteiras de seleções mundo afora. É perceber que o dia acorda mais nublado numa quinta ou numa segunda em que o time dele perdeu. É preciso ter calma, paciência e concentração se não quiser que ele goze logo. Aliás, é preciso também ter calma, paciência e concentração para não respingar a tampa do vaso. É justamente por isso que a gente acaba cometendo esse erro. Mas é muito difícil acertar dentro, que fique bem claro. É estar completamente brava e ser surpreendida por um buquê de flores. É pensar que o romantismo talvez não tenha morrido até que ele arrote no meio da mesa de jantar. E pensar logo em seguida que o romantismo ainda vive em ogros por aí. É tentar ensinar a ele um pouco de literatura feminina e ouvir que não entende essa sua vontade louca de assistir a todas as comédias românticas do cinema. “Pra ser sincero, eu gosto de ver gente atirando e explosões, meu bem. Isso é legal. Além disso, eu odeio fingir que um cisco entrou no meu olho toda vez em que algum desses seus romances realmente mexe comigo”. É preciso entender que a gente nunca vai admitir que passou alguma noite em claro por conta de uma DR mal acabada. Aliás, é preciso se esquecer dessa informação assim que o parágrafo acabar.
Para entender um homem é preciso sacar de sexo aos 45 do segundo tempo. Aquela alegria surpresa de quem se esforçou o jogo inteiro e agora comemora com grande satisfação a ejaculação que acabou de ter. É compreender que a gente tenta ser bacana, quando quer. E que a gente fez curso de canalhices ainda na barriga da mãe. Mas também só usamos essa arte quando queremos. É preciso duvidar da nossa capacidade de trocar uma lâmpada para desentender a nossa teimosia. Afinal, que homem vai acatar a um “deixa pra lá” se não conseguir abrir uma lata de ervilhas? A gente perde força e vai pra forca. Mesmo que vocês não se importem, existe um código de ética da virilidade masculina que só importa pra nós mesmos. É bobagem, a gente sabe no fundo. Mas é preciso aceitar essa nossa condição para entender que a gente quer sempre dobrar os limites. É não ligar para o que vocês chamam de grosseria e a gente chama de elogio. É entender que gostosa e linda tem o mesmo significado pra gente quando se trata de quem a gente gosta. E saber que todos nos tornamos inseguros quando a gente se apaixona. Aliás, é descobrir que a gente se apaixona de verdade. Mas isso é segredo, cá entre nós.
É negar o futebol para jogar vídeo game. É entender de desenho animado e essa nossa admiração pelo Sylvester Stalone. É começar a apreciar listras cruzadas e roupas que não combinam. E aceitar que, definitivamente, só existem umas 12 cores que a gente consegue enxergar. O resto é invenção feminina. É preciso visitar algumas cidades e correr ao redor do mundo. É preciso ter deitado a cabeça alguma vez numa barriguinha de cerveja e adormecido com uma barba mal feita roçando o pescoço. É preciso ser agarrada pela cintura e sentir a nossa respiração pesada como um sussurro que vai descendo pela coluna e tira as roupas dela. É ler isso tudo e chegar a uma única conclusão: que entender e desentender os homens é a mesma coisa. E que nós somos tão complicados quanto vocês. Mas, o que importa mesmo, é seguir um conselho tipicamente masculino: esquece isso tudo e deixa pra lá.




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