terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Diálogo do ano que termina:
Aquela história de 'eu e eu mesma', debatendo o bom e velho clima de fim de ano
- Tá ouvindo?
- O quê?
- A música que vem lá de baixo, da loja de brinquedos.
- E precisa?
- Falei pra incomodar, sei que não te agrada essa história de jingle bell.
- Não é bem isso.
- É o que então?
- ...
- Fala!
- Só acho final de ano uma coisa muito hipócrita, falsa mesmo.
- Mas adora comer as bolachinhas de melado!
- Só se forem cobertas com glacê!
- E no mais?
- No mais todo mundo vive de um jeito que não existe. Com aquelas mensagens de amor e paz e blá blá blá na tevê. Ou tu acha mesmo que “hoje é um novo dia de um novo tempo que começou”?
- Ah! Mas a campanha desse ano tá bem bonita!
- É mesmo, também gostei. Só que se a gente pensar bem, é tudo utopia. A única grande mudança do ano novo é o último dígito que a gente escreve no cheque e normalmente se confunde nos primeiros dias, põe o do ano anterior, perde a folha, começa tudo de novo…
- Quase nem se preenche mais cheque hoje em dia!
- Tô meio velha.
- E tu nem deveria ligar pra isso, eu sei que tu usa cartão.
- Mas claro que não é só o cheque! Não sei bem explicar, mas não gosto dessa coisa de que, porque é dezembro, tudo vira retrospectiva, balanço, reflexão, nem da falsa esperança de que só porque volta a aparecer janeiro na folhinha tudo vai ser diferente. Todos os sonhos, os desejos, os propósitos…
- Qual o problema em sonhar?
- O problema não é ter sonhos e planos, o problema é de uma maneira ou outra depositar isso tudo no próximo calendário. Não entendo por que não se pode desejar coisas boas assim, de hoje pra amanhã, ainda que seja junho, ainda que seja dia 27, ainda que não tenha feriado, ou ceia, ou fogos, ou mandingas…
- Talvez a graça seja essa mesmo. É uma hora em que todo mundo pára e se concentra em boas coisas.
- Mesmo assim eu acho errado. Não gosto porque é fingido.
- Por quê?
- Olha isso que eu acabei de receber “amigo, agora é preciso viver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar…” assinado, fulana de tal. Primeiro, fulana nem me conhece.
- É, formalidades de trabalho. Tu sabe como é...
- Segundo, desejar coisas boas por formalidade é patético. E depois, por que raios agora tudo vai mudar? Não vai só porque é um dia depois do outro. Não vai só porque alguém pula tantas ondas ou veste uma calcinha vermelha. Não vai!
- Acho que tu tá muito amarga e desacreditada.
- Só porque eu acho bobagem essa coisa de “ano que vem eu vou isso ou aquilo”?
- É bom ter esperanças!
- Sejamos honestas! Em seis de janeiro do ano que vem, no máximo, eu não vou nem lembrar mais de isso ou aquilo! Vou estar me lixando se teu ano vai ser próspero ou se tua noite do último vinte e quatro foi mesmo feliz.
- Amarga e descreditada.
- Eu só não sou boba.
- ...
- ...
- Tudo bem, mudemos de assunto.
- ...
- Não era esse o texto, né?
- Não, era outro.
- E tu mudou por quê? Só pra poder falar de ano novo! Tá vendo como tu dá importância pra isso?
- Isso é pra irritar, não é?
- Desculpa.
- ..
- Não falo mais em festas de fim de ano, prometo.
- Tá.
- ...
- ..
- ...
- ...
- ...
- Ei, tem papel e caneta aí?
- Tem. Por quê?
- Escreve uma coisa então! Vou ditar.
- Fala!
- Propósitos para dois mil e seis, dois pontos… tentar ser menos amarga. Pula uma linha. Acreditar mais nas coisas e nas pessoas.
- Posso pular outra linha e escrever “ser mais tolerante”?
- Bem… acho que pode. Se parece bom, sempre dá pra tentar.
**
Não liguem para como eu uso o pronome na segunda pessoa e o verbo na terceira, não é erro, é vício de linguagem. Cá entre nós, vocês têm mais o que fazer além de ficar reparando nos meus verbos e pronomes, eu sei. Como suas listas de sonhos e desejos e planos pro ano que já vem.
E sejamos felizes. Não porque eu estou desejando ou porque cantam nos jingles da televisão. Mas porque é a melhor maneira de fazer as coisas. E ponto.
(um feliz 2009 pra ocês. :D)
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Era tudo que eu queria;
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Nós vamos falar sobre o que?
Sobre todos os dias inquietos, dias de calor infernal e de batucar em mesas e estantes.
Dias iguais, diferentes, dias de céu azul, dias que só acontecem aqui no sul, dias de quem não tem tempo pra pensar, dias pra achar desculpas, pra fazer pratos gelados de doce para após o jantar.
Sobre todos os dias que encontramos as desculpas mais absurdas apenas pra justificar nossa falta de vontade, nosso fraquejar. Sobre as músicas que ouvíamos e deixamos de ouvir, sobre a rádio que cansamos de sintonizar, sobre as pessoas que deixamos de amar, sobre os passos que poderíamos ter dado e não demos. Sobre o fim de tudo, os princípios que existem desde que o mundo é mundo, sobre a camisa mal passada, sobre contar o que sonhamos á noite pra alguém que sempre estará ali pra escutar.
Sobre banho de mar.
E também sobre os domingos de sol, comer fruta embaixo de árvore e sentir formiga beliscando a bunda, sobre feridas que cicatrizam, pois elas sempre cicatrizam. Sobre provas que tinham semblante de piores do mundo, sobre deitar no chão do quarto com a luz desligada e esperar o tempo passar. Sobre os perfumes característicos das épocas, sobre presentes que comprávamos quando o dinheiro era fácil, sobre beijos escondidos e amores platônicos que seriam pra vida toda até o próximo amor.
Sobre velhos amigos, sobre filmes que todos viram – menos você, sobre como pessoas significam mesmo através dos anos, sobre o primeiro fio de cabelo branco, sobre credibilidade e a possibilidade de esgotamento desta, sobre listas de supermercado, festas de fim de ano, futebol.
Sobre Brasil, London, Amsterdam, NY. Sobre o que está longe, o que está perto, o que desejamos, o que perdemos, o que nunca ganharemos, o que sonhamos, o que comemos, o que sangramos, o que acreditamos.
Sobre nós.
O futuro, o ontem. O que se passa e o que jamais irá acontecer. O que planejamos.
Sobre o que lembramos, sobre a vida.
(é eu te amo)
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Sobre a autora:

eu sou da geração do disbunde,e da tribo do abraço. ;)
(Texto de 2006, válido até hoje)
Dezembro;
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Pare;

quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Querida amiga:
sábado, 22 de novembro de 2008
Lispector:
Faça com que eu saiba ficar com o nada,
e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços o meu pecado de pensar
domingo, 16 de novembro de 2008
Sobre dar a cara a tapa:
(é meio humilhante, mas, hoje, eu dei a minha, duas vezes.)
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Cold turkey endorphins; Waterworks, Inc.
ela estava quase disposta a usar um deles de novo. um daqueles vestidos tão cheios de uma essência que lhes transfere vida própria. um daqueles vestidos que você só pode usar sabendo que pessoas vão te comprimentar e querer saber da sua família. mas aí tudo veio por agua abaixo, né?
e tem sido assim desde que a gente lembra. vez ou outra aparece algum espertalhão perguntando porquê não constroem os castelos longe da água, ou até porque não seguram os portões da represa.
é que aqui em casa a gente gosta de ter o copo sempre cheio. não tem muito sentido em perpetuar essa metáfora muito mais, porque chover no molhado é apelido à essa altura do campeonato (ha.) mas sabe, não aguento ter que fingir sorrisos, rir de piadas sem graça e dar voltas bêbadas e sem muita coordenação às 4 da manhã.
eu preciso rir até meu estômago doer, sorrir até com os cabelos, porque a alegria é demais pra ser contida, gargalhar gritando a tarde inteira, porque todo o resto do mundo está trabalhando. mas aí tem horas que tudo isso é demais, e desaba. e só isso eu quis dizer. que estou ciente do que faço, e faço por escolha. eu podia me ‘curar’ e ser uma pessoa morna e seca. só não quero. obrigada.
Adaptando:
(Caio Porfírio Carneiro; adaptado)
terça-feira, 11 de novembro de 2008
The little things.- as únicas que valem a pena;
o que houve ali?
onde a gente se perdeu?
crescer não precisava ser tão ruim assim. podia ser só aqueles momentos de acordar no meio da noite e ter alguém segurando a tua mão. podia ser sair às terças-feiras sabendo que tem que acordar cedo na quarta pra trabalhar, e nem ligar. podia ser ter grupos de amigos que não se afastassem por causa de novas prioridades. e porque eu terminaria esse texto, mas ao invés de falar, resolvi agir e vou ali dar um abraço na minha amiga e dar risadas.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Devolve, moço;
Meu coração
Meus pensamentos
Devolve moço a minha fé
Devolve meus sentimentos
Devolve moço o tempo
Em que se ria desmedido
Em que amores não eram como o vidro
Torna, moço, cada momento inesquecível
Pouco importa se passe
O importante é que se guarde
Tudo que foi vivido
O que a gente é moço
É o que a gente sente
Por isso moço, me devolde
Eu quero ser pra sempre.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
Sobre a efemeridade das coisas:
(e este ano infernal que nunca termina?)
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Simples verdades:

(As pessoas sempre vão falar pois suas línguas lhe vencem os dentes e seus medos e inseguranças sempre acabam em dedos ao diferente. Então que se foda amor, que se foda se a palavra suja não rima. Que se foda amor, que se foda. Pecado é não viver a vida. -Dance of days.)
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Sem açucar:
(com afeto.)
Nessa vida (trecho incompleto):

A vida é uma caixinha de surpresas
E quantas surpresas ela traz pra nossa vida!
E quanta vida nós ganhamos de presente
Nessa caixa de surpresa e de chegada e de saída!
Ponto de encontro e despedida
A vida é uma estrada de subidas e descidas
Essa estrada estranha que parece tão comprida
Mas que passa tão depressa com essa pressa suicida
Pressa que me apressa quando eu desço na banguela
Forte feito o Mickael do Skate na favela
Solto na ladeira eu solto o freio de mão
E ando sem as pernas porque eu tenho coração
Eu vou com o coração e com o coração eu vôo
Eu vou de coração e de coração eu dôo
o meu próprio coração e a vida que ele tem
que também foi doação, que eu recebi de alguém
- O presente valioso que é viver
Que a gente ganha e perde sem perceber
Que a gente adora e não sabe agradecer
Ou agradece e se esquece de fazer por merecer
A vida é uma carta sobre a mesa
E quantas tristezas ela obriga que eu suporte!
E quantas jogadas nós erramos realmente
Nesse jogo de azar e sorte, nascimento e morte?
(...)
(Gabriel Pensador)
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Teatro dos vampiros:
domingo, 19 de outubro de 2008
Azedume:
( Tira esse azedume do meu peito
E com respeito trate minha dor
Se hoje sem você eu sofro tanto
Tens no meu pranto a certeza de um amor - Los Hermanos)
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Hibernei:

Anyway, I can try
anything it's the same circle
that leads to nowhere and I'm tired now.
Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.
But don't be scared,
I found a good job and I go to work
every day on my old bicycle you loved.
I am pilling up some unread books under my bed
and I really think I'll never read again.
No concentration,
Just a white disorder
everywhere around me,
you know I'm so tired now.
But don't worry
I often go to dinners and parties
with some old friends who care for me,
Take me back home and stay.
Monochrome floors, monochrome walls,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.
Monochrome flat, monochrome life,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.
Sometimes I search an event
Or something to remind,
But I've really got nothing in mind.
Sometimes I open the windows
And listen people walking in the down streets.
There is a life out there.
But don't be scared,
I found a good job and I go to work
Every day on my old bicycle you loved.
Anyway, I can try
Anything it's the same circle
That leads to nowhere and I'm tired now.
Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.
But don't worry
I often go to dinners and parties
With some old friends who care for me,
Take me back home and stay.
Monochrome floors, monochrome walls,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.
(yann tiersen)
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
2x2:

Voltando, parece que se eu olhar pra trás vou ver o mesmo rosto suado, lindo e cheio de dentes que me acompanhou naquela noite fria, todos os questionamentos banais, os sonhos indecifráveis, a vontade louca de fazer algo novo, sentir algo novo. Aquela gana por uma estória a dois completamente diferente de todas as outras que já viveu. Se é que já tinha vivido alguma.
Com o tempo, porém, as coisas ficaram mais sóbrias. Os sentimentos assumiram novas nuances. Ao mesmo tempo que a gente sente próximo, a gente sente longe. A gente nem sabia mais o que sentir, lá pelas tantas. Só ia levando. Sem notar, assim.
Hoje só resta uma lembrança apagada dos velhos dias, aqueles com mais sorrisos, mais lágrimas de felicidade, mais expectativa. Dias que traziam conforto e confiança. Não que hoje esteja tão ruim, tão longe de ser o que era. Tá bem, está mesmo muito longe de ser o que era. A gente sente saudade do que viveu, tanta saudade que é capaz até de esquecer que somos as mesmas pessoas que viveram isso há tanto (ou tão pouco) tempo atrás. O tempo traz estabilidade, sim, mas também traz medos, conhecimento demais sobre o outro, decepção, euforias contidas. Maturidade, dizem.
Ou seria imaturidade?
Gostar é gostar muitas vezes, de todas as formas possíveis. É mostrar que você pode gostar de uma pessoa depois que ela assumir a forma original, e não aquela que você imaginava que era a dela. Não encare como calúnia se as qualidades variarem com o passar dos dias, meses, anos. Leva mesmo muito tempo até a gente conhecer tudo aquilo que um dia escolheu pra si julgando ser o melhor. Escolhemos todos os dias, na verdade. Basta saber se o melhor pode mesmo ser o seu melhor pra sempre, independente das surpresas que traga, independente das mudanças que sofra. Porque gostar, desculpe decepcionar os inflexíveis aí, é ceder. Nem muito, nem pouco. O suficiente.
Apenas esse espaço suficiente para que o outro possa abrir os olhos e respirar e para que você possa colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz.
Um espaço maior que 2×2, onde os dois possam sorrir, e só.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Ela cansou:
Um dia, sem mais nem menos, voltando do trabalho e depois de passar na padaria, com seu tradicional saco-de-pão com três croissants de chocolate dentro como acompanhantes na poltrona de carona do carro, Helena cansou.
É, ela cansou. Quando dobrou a esquina e apertou no controle para abrir a garagem, tinha um carro estacionado ali na frente, trancando a passagem. Não que isso possa ser considerado um sinal de fim dos tempos, mas a verdade é que ha muito tempo ela dormia mal e pensava demais em coisas que não tinha controle.
Estacionou na rua mesmo, desceu do carro e entrou porta adentro. Não estava irritada e nem nervosa. Não iria descontar no irmão ou no cachorro, nem sequer os enxergava. Seus olhos estavam vendados. Ela temia que ao olhar no espelho sentisse uma ânsia incontrolável. Ela só sabia que tinha que tomar o banho dela, enrolar o cabelo, colocar a primeira roupa que visse pela frente e ir pra faculdade. Ela simplesmente não tinha mais tempo a perder cuspindo dragões pela boca.
Fez exatamente isso. Antes de sair de casa, bebeu um iogurte e comeu ferozmente seus croissants habituais, deixou um bilhete que voltaria mais tarde das aulas encima da mesa e foi.
Tem vezes na vida em que a gente sabe que algo se quebrou de uma forma impossível de colar os cacos novamente, e mesmo sabendo disso, não sabemos como agir exatamente. A gente quer ser tranqüilo, cabeça boa, relaxado. No fim, acaba criando em si mesmo esse monstro com doze cabeças, nervoso e ansioso, que mal consegue dar um passo após o outro sem checar o relógio e o pequeno manual de boas maneiras pra ver se esta fazendo a coisa certa.
Helena não queria mais fazer as coisas certas, parece que algumas ações tinham perdido a conveniência.
A verdade: não sabia mais o que a movia. Não era raiva, rancor ou repulsa. Antipatia, aversão… não. Mesmo assim, batia a lapiseira com força na classe e quebrou mais de uma vez a grafite. E nem sequer reparou. “Cansar não exige muito esforço, é só uma questão de ajustar o foco.”, disse uma amiga à ela na hora do intervalo, quando ela sutilmente comentou que estava esgotada.
No quarto período encontrou o namorado pelos corredores, ele comentou algo sobre o dia dele e ela não ouviu. Um zumbido escorregava pelos ouvidos dela, exercendo um bloqueio instantâneo. Marcaram de se ver no dia seguinte, mecanicamente como quem diz “o número dois, por favor” no Mc Donald’s. E ela assistiu à última aula, só de corpo presente, sua cabeça estava virada num jogo de montar de 5.000 peças.
Na volta pra casa, o som estava alto demais, quase bateu o carro. Um susto. Seguiu em frente, mas não queria, é, ela não queria voltar pra casa, colocar o pijama, checar emails, escovar os dentes, ler duas frases de um livro e cair no sono. Deu meia volta e rodou. Não se sabe bem se por dez minutos ou uma hora. Talvez duas, talvez três.
Desceu numa praça, bairro distante do centro da cidade. Sentou num dos bancos acabados de lá, encostou a cabeça numa árvore e nem havia pensado na possibilidade de estupro, ladrão, lobo mau. Baixou os olhos por instantes, assim, como fazem as pessoas que cansam.
Vinte minutos depois, entrou no carro e foi pra casa. Já passava das duas da madrugada, a família toda na sala com cara assustada, mas em silêncio, só o vento frio batia, quase gritava, na janela. Antes que alguém viesse perguntar alguma coisa, Helena foi pro quarto.
Sabe o que ela fez?
Dormiu.
Porque no dia seguinte tinha que acordar cedo e pensar novamente em trabalho, faculdade, família, namorado, amigos, cachorro. Ou em nada disso. Já estava tarde pra pensar em algo, e afinal, ao menos por um único dia na vida… Helena cansou.
[Pela manhã, já era outra. Ao mesmo tempo, era a mesma. Difícil explicar, mas estava mais leve do que nunca.]
. .
Preocupação demais em buscar os defeitos dos outros dá nisso. Só gera desgaste físico e mental. Não é fácil definir como plano de metas a ação “não olhar pra trás”. Não é fácil mudar. É mais acessível se decepcionar por toda e qualquer coisa que surja. Coisa que quando não surge a gente dá jeito de procurar e encontrar. E se não encontra, inventa. Com o passar dos anos a gente percebe que a maior verdade que existe é aquela que a gente conhece por conta própria, a nossa existência. O que a gente viveu nos últimos cinco minutos. Ou aquilo que pode, de alguma forma, ser mensurável. Falando assim, parece conversa fiada de quem têm pêlos no coração, mas não é. Até Helena cansou. Ela, que sempre fez questão de fazer tudo regrado, tudo por todos, pouco por ela. Imagina então se for falar da gente, poços ambulantes de egocentrismo. Porque um dia todo mundo cansa. O ideal é que a gente mude, ou mesmo provoque a mudança, antes que chegue esse dia. Assim como ela, que quase não notou, encarando como um exercício simples de tolerância e seguiu em frente no livro dos dias. É. Assim o efeito vai ser breve e indolor, como tudo deve ser. Ok, eu sei. Nada é como deveria ser.
.
Agora… Helena, querida. Vem cá, vem. Senta aqui perto de mim e explica como é que se faz.
[...]
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
F***.
(a fucked up soul makes pair with a completly fucked up mind.)
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Onde a sua capacidade de sonhar se escondeu?

(e não adianta procurá-la debaixo do carro novo)
Harvest; snacks and tissues.

(Escrito em inglês sim, um presente para um amigo.)
Memória hospitalar azulada:

sábado, 4 de outubro de 2008
Dia nada

Desde a hora em que acordei:
ninguém em casa
a única voz que escuto é a minha
estranho
a casa vazia, quase morta
sinal de nada
um por um
nossos planos foram desfeitos
não gosto de dias sem planos
parece um dia perdido
hoje não vivi
animalizei
-acordei
-comi
-dormi
arrumei meu quarto
meu ninho
a depressão não veio
nem ela
até ela
hoje me deixou só
todas as luzes amarelas acesas
para espantar qualquercoisa
avisam que hoje esta casa merecia uma festa
um encontro
boas risadas
boa música
mas o nada impera
o nada acontece
as esperanças são ralas.
Narciso e Narciso

Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.
Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.
Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.
O espelho embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.
(Ferreira Gullar)
Desabafo:

(Intimidade
No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
[ José Saramago] )
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Gaiola de ouro:

O verdadeiro banquete:

terça-feira, 30 de setembro de 2008
Salva-vida:

(...)
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Um convite inusitado:
foi o melhor convite, o melhor presente, a melhor supresa possivel, meu mundo voltou a girar, e agora sim tem um novo sentido, viver pra arte, como sempre foi até aqui, me sentir completamente plural, como sempre fui.
(é isso e lá pelos meados de novembro, no teatro do dragão do mar, mais uma vez serei A avarenta, de Moliére adaptado por Charles Dickens e revisto por Tonico lacerda cruz, vá me ver, caro leitor.)
.
sábado, 27 de setembro de 2008
Sonho:
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
A constante inevitável:

(amém!)
Porcos e diamantes:

-
-Para os que resistem aos encantos da sujeira o prémio é a margem, são seres raros, superiores, exemplares quase únicos num meio enlameado.
-Para os que insistem o castigo é a convivência, dependência, alienação de viver ser e sentir igual a todos os outros porcos imundos, que se lambuzam diariamente na lama da sociedade, saboreando de bom grado a lavagem que lhes é oferecida, à eterna procura, ganho e perda de diamantes.
(snatch)
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
(Desgraçada)mente:

(A maior expressão de angústia, pode ser a depressão, tudo que você nem sente, indefinível, mas não tente se matar, pelo menos essa noite não.)
Minha aventura:

(se ao menos no escuro eu conseguisse apagar, dormir sem sonhar, apenas dormir, sem sonhar.)
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Auto-poética:

O pouco que estes olhos enxergam
Não gostam
Me perguntam se queria mais
Não quero
As pessoas não me entendem
Não sou
Todos seguem um caminho
Não vou.
(...)
Manoela não tem par
Falta um, dois, três
Não há vivalma que a complete
Ela não tem espelho
Não tem encontro
Não tem medida
Manoela não tem freios
Ela não sabe ser de outro jeito
Ela se perde pra se encontrar
Vive de procurar motivo, maneira, razão...
Manoela não tem par
E é tudo culpa dela
Ela, Manoela.